segunda-feira, 31 de maio de 2010

Conheça nossas alfabetizadoras - Marilene

Com a aproximação de uma nova etapa do Programa Brasil Alfabetizado, estamos inaugurando uma nova seção do blog - o "Conheça nossas alfabetizadoras"! São pessoas maravilhosas, que se dedicam de corpo e alma à causa da alfabetização. Acho que não precisamos falar mais nada a partir daí.



São Pedro da Aldeia, 14 de abril de 2010.

Olá para todos!

Meu nome é Marilene, tenho 48 anos, nasci na Ilha do Governador no Rio de Janeiro e há 24 anos moro em São Pedro da Aldeia. Sou casada, tenho um casal de filhos. Me formei em professora em 1981, mas sempre dei aulas de reforço em casa. Terminei a faculdade de Pedagogia ano passado e através de uma funcionária da faculdade, que já foi alfabetizadora do Brasil Alfabetizado, conheci o projeto. Me interessei, procurei a Coordenadoria de Educação Estadual em Cabo Frio e consegui ser parte do projeto.
Minha turma é muito esforçada e divertida. É formada por pessoas de 29 até 78 anos. Eles têm muita garra e determinação. Eu tento na medida do possível suprir suas curiosidades, dando atenção e carinho a todos, porque todos são muito especiais para mim. Eles trabalham o dia todo e ainda têm forças para à noite estarem juntamente comigo aprendendo e se atualizando.
Eles são um exemplo de força de vontade e coragem. Se eu soubesse que trabalhar com adultos era tão bom, já teria feito este trabalho há muito tempo!
Venham fazer parte de minha turma! Nela, além de vocês encontrarem conhecimento, vão encontrar carinho e amizades. Estou lhes esperando de braços abertos!!
Profª Marilene

sábado, 22 de maio de 2010

Encontro Estadual Brasil Alfabetizado - SEEDUC - RJ - Alfabetizadores e Alfabetizandos

No dia 21 de maio de 2010 realizou-se um Seminário do Brasil Alfabetizado no estado do Rio de Janeiro. Desta vez foi um encontro diferente, pois tivemos a presença não só de coordenadores e implementadores, como de alfabetizadores e alunos alfabetizandos de todo o estado. Ocorreu na fronteiriça e simpática cidade de Bom Jesus de Itabapoana. Quem não conhece deve correr para conhecer.

O "povo" daqui das Baixadas Litorâneas (Giana - implementadora, Lucimone - alfabetizadora e Maria da Ajuda- alfabetizanda) ficou hospedado no Espírito Santo - Bom Jesus do Norte. Mas não fica longe não: é só atravessar uma pontinha linda, e lá estávamos de volta ao estado do Rio de Janeiro. Nos divertimos muito passando de um estado a outro pela ponte.

O encontro se realizou no maravilhoso C.E. Padre Mello. A recepção foi muito calorosa, e o ponto alto foram os quitutes de sobremesa, com doces variadíssimos feitos pelas habilidosas mãos das doceiras locais.

Tivemos momentos para lá de emocionantes. O ponto alto foi quando invertemos os papéis e os alunos alfabetizandos ocuparam o espaço de nossos educadores. Aprendemos a fazer milhares de coisas lindas com reciclagem de tecidos, de papel jornal, garrafas pet, comidinhas típicas e muito mais! As professoras faziam a ponte pedagógica de como cada atividade pode ser aproveitada em sala de aula para impulsionar o processo de alfabetização. Ao final, nos reunimos para sistematizar nossas experiências e ouvimos depoimentos dos alunos com o seu processo de alfabetização. Qualquer descrição deste momento em forma de poesia, literatura, pintura ou música não chega perto da quantidade de emoção produzida naquele auditório...

Chega. Agora, uma sequência de slides para ilustrar e deixar na memória e na história este dia mais lindo de maio.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

PROJETO DE ALFABETIZAÇÃO - BAIXADAS LITORÂNEAS I - BRASIL ALFABETIZADO 2009 / 2010

Logo em seguida à nossa formação continuada, chegamos à conclusão de que o principal neste curto processo de alfabetização proposto pelo programa Brasil Alfabetizado - 8 meses - poderia não ser suficiente para alfabetizar todos de modo completo. A principal ênfase de um possível projeto global para nossa região seria desenvolver uma disposição nos alunos de modo a manter a chama e a vontade de ler e escrever sempre acesa, e cada vez mais forte. O que Paulo Freire sabia fazer muito bem - desenvolver a paixão pelo conhecimento. Chamamos esta chama de sensibilização, pois a nossa tarefa seria justamente sensibilizar os alfabetizandos para a importância, inclusive histórica (e porque não para a delícia), de aprender a ler e a escrever.

Conhecemos casos de pessoas que, quando querem, se alfabetizam sozinhas. Recentemente um filme, chamado "O Leitor" (com a divina Kate Winslet), mostrou um caso de uma pessoa que se alfabetizou sozinha numa prisão. À parte as particularidades históricas reais de cada país, conhecemos também casos de pessoas que se alfabetizam sozinhas no Brasil. Então o processo de alfabetização, como qualquer processo de conhecimento, é desencadeado pelo vínculo de prazer do ser humano. Transformar a alfabetização em objeto de prazer, eis a nossa proposta. Assim garantimos que, com ou sem os programas governamentais, estes seres humanos não cessarão sua busca pela passagem só de ida ao mundo letrado.

Abaixo, um simples projeto elaborado por nós logo no início da etapa:


Trabalhamos este projeto de várias formas nas formações continuadas. Aos poucos vamos publicando estas formas. Esperamos siceramente que inspire mais pessoas a entrarem nesta tarefa histórica, que é alfabetizar nosso povo.

Avaliação das fases da escrita - tabela baseada em Emília Ferrero


Em nossa formação continuada, vimos uma tabela bacana para avaliar as fases da escrita dos alunos, seguindo a concepção de Emília Ferrero. A tabela foi retirada de http://revistaescola.abril.com.br/pdf/tabela-sondagem-alfabetizacao.pdf

Segue abaixo um exemplo de como esta avaliação pode ser feita, a partir do texto de Dona Deolinda, aluna da prof. Angélica, que ministra aulas na Comaq, em Boca do Mato - Cabo Frio. Fiz anotações a lápis sobre uma possibilidade de avaliação segundo estes critérios:



sexta-feira, 7 de maio de 2010

Produção de texto na alfabetização

Produção de texto na alfabetização http://revistaescola.abril.com.br/producao-de-texto/

- Provocação:

Se os alunos ainda não dominam completamente a escrita alfabética, não é possível trabalhar a produção de textos. Certo?

Errado. O conhecimento do sistema alfabético não é um pré-requisito para a elaboração de um texto. Definir o conteúdo que será escrito, adequá-lo a um propósito comunicativo e organizar as ideias são comportamentos escritores que não dependem da representação gráfica das palavras e que as crianças devem praticar desde a pré-escola. Uma das maneiras de trabalhar esses conteúdos é o ditado que os alunos fazem para o professor, o que torna possível às crianças se perceberem capazes de escrever antes de estar alfabetizadas.

Ponto de partida
Produzir texto sem escrever
Na ponta do lápis
Ler e escrever de verdade na 1ª série
Aulas que estão no gibi
Palavra de especialista
Com significado, desde o começo (por Delia Lerner)
Aquisão do código e compreensão do texto, ao mesmo tempo (por Ana Teberosky)
É preciso conhecer as características da linguagem escrita (Telma Weiz)
Projetos didáticos
Criar agendas telefônicas
Livro de parlendas preferidas
Reescrita de histórias conhecidas
Indicação literária
Texto informativo sobre filhotes
Legendas para fotos
Atividades permanentes
Escrever para aprender (em vídeo)
Ditado para escriba (em vídeo)
Leitura de textos informativos (em vídeo)
Interação com a linguagem escrita
Sequências didáticas
''Eu já sei ler gibi!''
Galeria de personagens

A EJA tem agora objetivos maiores que a alfabetização

Texto disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/modalidades/lst_modalidades.shtml

TIMOTHY IRELAND "Hoje sabemos do valor da aprendizagem contínua em todas as fases da vida, não só na infância e na juventude."

Para o especialista inglês, é desafio da modalidade de ensino preparar para o mercado de trabalho e um mundo em transformação.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) ainda é vista por muitos como uma forma de alfabetizar quem não teve oportunidade de estudar na infância ou aqueles que por algum motivo tiveram de abandonar a escola. Felizmente, o conceito vem mudando e, entre os grandes desafios desse tipo de ensino, agora se inclui também a preparação dos alunos para o mercado de trabalho - o que ganha destaque nestes tempos de crise econômica. "Hoje sabemos do valor da aprendizagem contínua em todas as fases da vida, e não somente durante a infância e a juventude", afirma o inglês Timothy Ireland, mestre e doutor na área e especialista em Educação da representação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.
Diretor do Departamento de EJA do Ministério da Educação (MEC) de 2004 a 2007, Ireland foi o responsável pela coordenação da sexta edição da Conferência Internacional de Educação de Adultos (Confintea), o mais importante encontro do mundo na área, que ocorre apenas a cada 12 anos. Sediado em Belém do Pará entre os dias 19 e 22 de maio, o evento foi realizado pela primeira vez na América Latina. Nesta entrevista, concedida à NOVA ESCOLA antes do início da conferência, Ireland apresenta um panorama de sua área e fala das principais questões que preocupam os estudiosos e dos desafios ainda a vencer.

Quando o assunto é EJA, se pensa em primeiro lugar na alfabetização. Essa é a função principal dela?
TIMOTHY IRELAND A alfabetização é uma parte fundamental, mas não é a única. No Brasil, a EJA tem sido associada à escolaridade compensatória para pessoas que não conseguiram ir para a escola quando crianças, o que é um erro. A Unesco trabalha com o conceito dos quatro pilares, surgido do desafio apresentado por um mundo em rápida transformação: precisamos aprender a ser, a viver juntos, a fazer e a conhecer. Também há o desafio da participação, da inclusão e da equidade: como colocar em prática o conceito da inclusão, que prevê o atendimento das demandas de aprendizagem da vasta diversidade de grupos. O Brasil tem segmentos com características bem definidas, como os povos indígenas, as comunidades quilombolas, as pessoas mais velhas. Todos têm direito à Educação.

O que gerou tantas transformações nessa modalidade de ensino?
IRELAND Isso ocorreu porque a Educação tem de acompanhar as mudanças que estão acontecendo e interagir com elas. O processo educativo, idealmente, começa na infância e termina somente na velhice. Dessa forma, a EJA tem de ser vista numa perspectiva mais ampla, dentro do conceito de Educação e aprendizagem que ocorre ao longo da vida.

O que essa aprendizagem contínua contempla?
IRELAND O processo tem três dimensões: a individual, a profissional e a social. A primeira considera a pessoa como um ser incompleto, que tem a capacidade de buscar seu potencial pleno e se desenvolver, aprendendo sobre si mesmo e sobre o mundo. Na profissional, está incluída a necessidade de todas as pessoas se atualizarem em sua profissão. Um médico, um engenheiro, um físico, todos os profissionais precisam se requalificar. Em momentos de crise, como o atual, isso fica ainda mais necessário. É comum o trabalhador ter de aprender um novo ofício para se inserir no mercado. Na social (que é a capacidade de viver em grupo), um cidadão, para ser ativo e participativo, necessita ter acesso a informações e saber avaliar criticamente o que acontece. Além dessas, há outra dimensão de aprendizagem muito pertinente neste momento: a relação das pessoas com o meio ambiente. Todos nós temos a necessidade de nos reeducarmos no que se refere a essa questão. Precisamos praticar novos paradigmas de sustentabilidade e novos hábitos de consumo.

Qual a importância dos programas de alfabetização de adultos no Brasil?
IRELAND Existe uma vontade política muito forte de reduzir as estatísticas de analfabetismo. Para um país que pretende ser uma potência mundial, ter um número significativo de pessoas que não sabem ler e escrever é um ruído na imagem. Também é essencial lembrar que esse é um dos indicadores usados para calcular o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Por fim, no campo pedagógico, a alfabetização representa o alicerce do processo de Educação, o portal pelo qual é necessário passar para poder continuar aprendendo.

Como adequar esses programas a um mundo em que o conceito de alfabetização tem se ampliado?
IRELAND De acordo com o conceito da Unesco, a alfabetização é a habilidade para identificar, entender, interpretar, criar, calcular e se comunicar mediante o uso de materiais escritos vinculados a diferentes contextos. Dessa forma, o essencial é compreender que ela não é mais entendida apenas como o domínio básico da leitura, da escrita e das operações matemáticas. Para uma pessoa realmente possuir essas habilidades, ela tem de concluir pelo menos o Ensino Fundamental.

Quais são os países mais bem-sucedidos na EJA hoje?
IRELAND Existem alguns com uma forte tradição nessa área, como Inglaterra, França e Itália, que têm introduzido na legislação o conceito de Educação ao longo da vida. Em geral, os europeus reconhecem o papel da EJA para o futuro social e econômico. Entre as nações emergentes, também há bons exemplos. Um deles é a Coreia do Sul, que estabeleceu dois planos nacionais de cinco anos para o desenvolvimento da aprendizagem ao longo da vida. Outro é a China. Na América Latina, Cuba tem investido em Educação para todos e com qualidade. Prever verbas para a EJA é crucial para o desenvolvimento de qualquer nação.

Segundo dados da Unesco referentes à América do Sul, a taxa de analfabetismo no Brasil só não é pior que a do Peru. Por que estamos tão mal?
IRELAND Eu apontaria três fatores principais. Primeiro, a riqueza natural do Brasil. Talvez ela tenha contribuído para que a Educação não fosse prioridade. Com tantos recursos, parecia não ser necessário investir nas pessoas. O segundo é que, obviamente, oferecer ensino em um país do tamanho do Brasil é muito mais difícil do que em outros menores, como o Uruguai e o Paraguai. Por fim, creio que não exista uma valorização da Educação. Só recentemente os governantes começaram a entendê-la como essencial para o desenvolvimento sustentável. Durante muito tempo, ela não tinha valor social nem para o próprio povo.

Houve avanços nos últimos tempos?
IRELAND Um esforço muito maior tem sido feito recentemente, com investimentos nessa área. O fato de a EJA ter sido incluída no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) foi fundamental para garantir uma fonte estável de recursos. Antigamente, se escolhia uma fase da Educação como foco, mas o governo atual tem uma visão sistêmica do setor e defende o investimento em todos os níveis de ensino.

O que falta para que o Brasil tenha menos demanda para a EJA?
IRELAND Há um problema sério. Muitos jovens que saem da escola semianalfabetos se matriculam na EJA. Eles não deveriam migrar para essa modalidade por falta de qualidade na escola regular. Para que um nível não gere demandas desnecessárias para outro e como forma de garantir continuidade nos estudos aos que aprendem a ler e escrever, é necessário estabelecer um projeto de políticas de alfabetização articulado com outros níveis de ensino. Aliado a isso, é necessário também investir mais na profissionalização dos educadores.

Os professores não estão bem preparados para educar jovens e adultos?
IRELAND Obviamente existem os que são muitos bons. Na maioria dos casos, os educadores desse público são improvisados e não têm preparo específico para atender esse público. Há formas diferenciadas de trabalhar com EJA e menos de 2% dos cursos de Pedagogia oferecem formação específica para esse fim.

Dados da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade mostram que a evasão no Ensino Fundamental na EJA chega a 20%. Como evitar isso?
IRELAND Há diversas variáveis interferindo nesse processo. Muitas vezes, o estudante não deixa voluntariamente a escola. Faz isso por causa da família ou do trabalho. Também existe a questão da qualidade do curso oferecido. Falta pensar a EJA com base nas demandas de aprendizagem dessa clientela específica. É importante reconhecer que a maioria dos estudantes que procuram concluir a Educação formal também carece de qualificação profissional e, por isso, deve-se articular a formação deles com a Educação continuada.

Como isso pode ser feito?
IRELAND Há duas iniciativas do governo que representam um grande avanço na área: o Proeja (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos) e o Projovem (Programa Nacional de Inclusão de Jovens).

Além dessa relação com o mundo do trabalho, há outras a promover?
IRELAND Sem dúvida. O MEC tem um papel importante de coordenar políticas que busquem a interface com outros setores. Já há relações fortes com a comunicação e a saúde. Pesquisas mostram claramente que mulheres com maior escolaridade cuidam melhor do bem-estar dos filhos. Há outros pontos que permeiam os dois campos. Os ministérios da Educação e da Saúde, por exemplo, se articularam para providenciar exames de vista e óculos para os que estão matriculados no programa Brasil Alfabetizado. Isso já ocorria com crianças, mas o reconhecimento de que o problema também afeta os mais velhos é muito bom.

O que mudou na área desde a última Confintea, em Hamburgo? As metas estabelecidas foram cumpridas?
IRELAND Na edição de 1997, abriu-se muito o leque de responsabilidades a que a EJA tinha de atender. Além de contribuir para o desenvolvimento de cada ser humano, ela tinha de contemplar a questão do mundo do trabalho e até a paz mundial. Foram criadas demandas além de sua própria capacidade. No período imediatamente posterior à reunião, houve muito otimismo. Achava-se que os compromissos iriam se reverter em novos investimentos e esforços por parte dos governos. Mas isso não se deu. Quando se fala da avaliação da Confintea de Hamburgo, hoje o que sobressai é passar da retórica para a ação.

Quais são, então, os desafios atuais?
IRELAND Atender a expectativas criadas em Hamburgo e também contemplar a crise financeira e econômica, que resultou na recessão global. Não há como negar que a EJA tem demandas próprias. É impossível desenvolver programas de qualidade sem que os recursos estejam garantidos. Normalmente, nas escolas são improvisados o local para essas aulas, os materiais utilizados e os educadores. Pra resolver isso, a profissionalização do corpo docente e o enriquecimento dos ambientes de aprendizagem são fundamentais. Em termos de gestão, é essencial implementar políticas de forma mais efetiva, transparente, eficaz e responsável, envolvendo na decisão representantes dos segmentos que participam da EJA - como a sociedade civil.

Criar políticas é papel da Confintea?
IRELAND Em geral, a conferência estabelece linhas ou orientações políticas, mas é necessário que ela crie mecanismos para avaliar o que está sendo feito.

Quer saber mais?
INTERNET
Informações sobre a Confintea, documentos e dados sobre EJA nos países participantes.
http://revistaescola.abril.com.br/politicas-publicas/modalidades/eja-tem-agora-objetivos-maiores-alfabetizacao-476424.shtml

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A reinvenção da alfabetização - Magda Soares*

*Professora emérita da UFMG.
Parte de palestra proferida na FAE UFMG, em 26/05/2003, na programação "Sexta na Pós".
Transcrição e edição de José Miguel Teixeira de Carvalho e Graça Paulino.
disponível em: http://www.presencapedagogica.com.br/capa6/artigos/52.pdf
Vou tentar aqui defender a especificidade da alfabetização e a sua importância na escola, ao lado do letramento.
O que poderíamos chamar de acesso ao mundo da escrita – num sentido amplo – é o processo de um indivíduo entrar nesse mundo, e isso se faz basicamente por duas vias: uma, através do aprendizado de uma "técnica". Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita; enfim, envolve uma série de aspectos que chamo de técnicos. Essa é, então, uma porta de entrada indispensável.
A outra via, ou porta de entrada, consiste em desenvolver as práticas de uso dessa técnica. Não
adianta aprender uma técnica e não saber usá-la. Podemos perfeitamente aprender para que serve cada botão de um forno de microondas, mas ficar sem saber usá-lo. Essas duas aprendizagens – aprender a técnica, o código (decodificar, usar o papel, usar o lápis etc.) e aprender também a usar isso nas práticas sociais, as mais variadas, que exigem o uso de tal técnica – constituem dois processos, e um não está antes do outro. São processos simultâneos e interdependentes pois todos sabem que a melhor maneira para aprender a usar um forno de microondas é aprender a tecnologia com o próprio uso. Ao se aprender uma coisa, passa-se a aprender a outra. São, na verdade, processos indissociáveis, mas diferentes, em termos de processos cognitivos e de produtos, como também são diferentes os processos da alfabetização e do letramento.
Que significa isso? Significa que a alfabetização, aprendizagem da técnica, domínio do código convencional da leitura e da escrita e das relações fonema/grafema, do uso dos instrumentos com os quais se escreve, não é pré-requisito para o letramento.
Não é preciso primeiro aprender a técnica para depois aprender a usá-la. E isso se fez durante muito tempo na escola: "primeiro você aprende a ler e a escrever, depois você vai ler aqueles
livrinhos lá". Esse é um engano sério, porque as duas aprendizagens se fazem ao mesmo tempo, uma não é pré-requisito da outra.
Mas, por outro lado, se a alfabetização é uma parte constituinte da prática da leitura e da escrita, ela tem uma especificidade, que não pode ser desprezada. É a esse desprezo que chamo de "desinventar" a alfabetização. É abandonar, esquecer, desprezar a especificidade do processo de alfabetização. A alfabetização é algo que deveria ser ensinado de forma sistemática, ela não deve ficar diluída no processo de letramento. Acredito que essa é uma das principais causas do que vemos acontecer hoje: a precariedade do domínio da leitura e da escrita pelos alunos.
Estamos tendo a prova disso através das avaliações nacionais. O último SAEB mostrou um resultado terrível: aproximadamente 33% dos alunos com quatro anos de escolaridade ainda são analfabetos.
Quais são as causas dessa perda da especificidade da alfabetização? É muito difícil analisar os fatos recentes, por um lado, por estarmos participando do processo; por outro, temos de fazê-la porque a questão é grave. Não podemos deixar esses milhões de alunos, crianças e jovens, saírem da escola semi-alfabetizados, quando não saem analfabetos.
O que poderíamos levantar como hipótese? Primeiro, uma concepção de alfabetização que, coincidentemente, chegou ao país na mesma época que o conceito de letramento, nos anos 80; segundo, uma nova organização do tempo da escola, que consiste na divisão em ciclos, trazendo junto a questão da progressão continuada – da não-reprovação.
Essa concepção de alfabetização está, de certa maneira, associada ao construtivismo. Não estou afirmando que essa concepção seja errada, mas a maneira como ela se difundiu no sistema é que pode ser uma das causas da perda de especificidade do processo de alfabetização. A mudança conceitual que veio dos anos 80 fez com que o processo de construção da escrita pela criança passasse a ser feito pela sua interação com o objeto de conhecimento. Interagindo com a escrita, a criança vai construindo o seu conhecimento, vai construindo hipóteses a respeito da escrita e, com isso, vai aprendendo a ler e a escrever numa descoberta progressiva.
O problema é que, atrelada a essa mudança de concepção, veio a idéia de que não seria preciso haver método de alfabetização. A proposta construtivista é justa, pois é assim mesmo que as pessoas aprendem, não apenas a ler e escrever, mas é assim que se aprende qualquer coisa: interagindo com o objeto de conhecimento. Mas os métodos viraram palavrões. Ninguém podia mais falar em método fônico, método silábico, método global, pois todos eles caíram no purgatório, se não no inferno. Isso foi uma conseqüência errônea dessa mudança de concepção de alfabetização. Por equívocos e por inferências falsas, passou-se a ignorar ou a menosprezar a especificidade da aquisição da técnica da escrita. Codificar e decodificar viraram nomes feios.
"Ah, mas que absurdo! Aprender a ler e escrever não é aprender a codificar e decodificar". Aí é que está o erro. Ninguém aprende a ler e a escrever se não aprender relações entre fonemas e grafemas – para codificar e para decodificar. Isso é uma parte específica do processo de aprender a ler e a escrever. Lingüisticamente, ler e escrever é aprender a codificar e a decodificar.
Esse modo de ver as coisas fez com que o processo de ensinar a ler e escrever como técnica ficasse desprestigiado. As alfabetizadoras que ficam pelejando com os meninos para eles aprenderem a ler e escrever são vistas como retrógradas e ultrapassadas. Mas, na verdade, elas estão ensinando aquilo que é preciso ensinar: codificar e decodificar. As alfabetizadoras podem até estar ensinando pelos caminhos inadequados, mas isso precisa ser feito.
Nas concepções anteriores, as alfabetizadoras tinham um método – fosse esse ou aquele – que vinha concretizado na chamada cartilha, acompanhado de um manual do professor (da alfabetizadora) dizendo detalhadamente o que ela deveria fazer. Não estou discutindo a impropriedade dos fundamentos dessa cartilha, seja do ponto de vista lingüístico, seja do ponto de vista da própria escrita, dos gêneros de escrita, do tipo de texto etc. Mas era isso que as professoras tinham. Não tinham uma teoria, porque aquele método era tudo: se adotassem o silábico, mantinham-se no silábico, pois não tinham uma teoria lingüística ou psicológica que justificasse ser aquele o melhor método ou aquela a melhor seqüência de aprendizado. A verdade era exclusivamente o que dizia a cartilha. Havia um método, mas não uma teoria. Hoje acontece o contrário: todos têm uma bela teoria construtivista da alfabetização, mas não têm método. Se antigamente havia método sem teoria, hoje temos uma teoria sem método. E é preciso ter as duas coisas: um método fundamentado numa teoria e uma teoria que produza um método.
Existe também a falsa inferência de que, se for adotada uma teoria construtivista, não se pode ter método, como se os dois fossem incompatíveis. Ora, absurdo é não ter método na educação.
Educação é, por definição, um processo dirigido a objetivos. Só vamos educar os outros se quisermos que eles fiquem diferentes, pois educar é um processo de transformação das pessoas. Se existem objetivos, temos de caminhar para eles e, para isso, temos de saber qual é o melhor caminho. Então, de qualquer teoria educacional tem de derivar um método que dê um caminho ao professor. É uma falsa inferência achar que a teoria construtivista não pode ter método assim como é falso o pressuposto de que a criança vai aprender a ler e escrever só pelo convívio com textos. O ambiente alfabetizador não é suficiente.
Minha hipótese é a seguinte: o construtivismo – aliás, o construtivismo constitui uma teoria mais complexa do que a que está presente no senso comum – nos trouxe algo que não sabíamos.
Permitiu-nos saber que os passos da criança, em sua interação com a escrita, são dados numa direção que permite a ela descobrir que escrever é registrar sons e não coisas. Então, a criança vai viver um processo de descoberta: escrevemos em nossa língua portuguesa e em outras línguas de alfabeto fonético registrando o som das palavras e não aquilo a que as palavras se referem. A partir daí a criança vai passar a escrever abstratamente, colocando no papel as letras que ela conhece, numa tentativa de, realmente, escrever "casa", sem o recurso de utilizar desenhos para dizer aquilo que quer. Então, depois que a criança passa pela fase silábica para registrar o som (o som que ela percebe primeiro é a sílaba), ela vai perceber o som do fonema e
chega o momento em que ela se torna alfabética.
Esse foi um grande esclarecimento proporcionado pelo construtivismo. Só que, quando a criança se torna alfabética, está na hora de começar a entrar no processo de alfabetização, de aprender a ler e a escrever. Por quê? Porque quando se torna alfabética, surge o problema da apropriação, por parte da criança, do sistema alfabético e do sistema ortográfico de escrita, os quais são sistemas convencionais constituídos de regras que, em grande parte, não têm fundamento lógico algum. E a criança tem de aprender isso. Ela tem de passar por um processo sistemático e progressivo de aprendizagem desse sistema. Nesse campo, a grande colaboração é da Lingüística, ao tratar das relações entre sistema fonológico e sistema ortográfico. Assim podemos determinar qual é o melhor caminho para a criança se apropriar desses sistemas e de suas relações.
É a isso que eu chamo da especificidade do processo de alfabetização. Não basta que a criança esteja convivendo com muito material escrito, é preciso orientá-la sistemática e progressivamente para que possa se apropriar do sistema de escrita. Isso é feito junto com o letramento. Mas, em primeiro lugar, isso não é feito com os textos 'acartilhados' – "a vaca voa, ivo viu a uva" –, mas com textos reais, com livros etc. Assim é que se vai, a partir desse material e sobre ele, desenvolver um processo sistemático de aprendizagem da leitura e da escrita.
Essa aprendizagem não está acontecendo. Visito muitas escolas e tenho visto o que está de fato acontecendo. Além disso, venho acompanhando nos testes – SIMAVE, SAEB e outros – o fracasso, a falta de orientação sistemática da criança para se apropriar do sistema de escrita. Quando digo que se "desinventou" a alfabetização, é a essa falta de especificidade da alfabetização que me refiro. Um sistema convencional tem de ser aprendido de forma sistemática. Desde que a criança tenha descoberto que o sistema é alfabético, está apta a aprender esse sistema. E acaba aprendendo porque, felizmente, criança é bastante esperta. Mas ela leva muito mais tempo para aprender, e enfrenta muito mais dificuldades, se deixarmos que o processo ocorra de maneira aleatória e esparsa.
A Lingüística fornece elementos para se saber como devem ser trabalhadas essas correspondências fonema/grafema com a criança. Quando isso não é observado, o resultado é o fracasso em alfabetização, sob nova vestimenta. Não estou dizendo que o fracasso de agora seja novidade, pois sempre tivemos fracassos em alfabetização. Antes, a criança repetia a mesma série por até quatro vezes e havia o problema da evasão. Agora, e talvez isso seja mais grave, a criança chega à 4a série analfabeta.
E por que talvez isso seja mais grave? Porque, quando a criança repetia o ano – pois tínhamos métodos que não estavam fundamentados em teorias psicológicas, psicolingüísticas nem lingüísticas –ela não aprendia. Então ela repetia, mas, pelo menos, ficava claro para ela que havia o "não sei". Agora, ela chega à 8a série, pensa que tem um nível de Ensino Fundamental e não tem. Na minha opinião, os alunos, os pais desses alunos e a sociedade estão sendo desrespeitados. Estamos iludindo-os ao dizer que essas crianças e esses jovens estão aprendendo a ler e a escrever, quando na verdade não estão.
Tratemos agora da reinvenção da alfabetização. À primeira vista, essa reinvenção pode parecer uma esperança, mas não é propriamente a solução do problema. Entendo-a como um movimento que tenta recuperar a especificidade do processo de alfabetização. Agora, mais que nunca, temos que ficar de olhos abertos para saber como esse movimento está sendo feito e em que direção ele está sendo feito.
Considero que nós estamos vivendo, na área de alfabetização, um momento grave. Primeiro, por causa do fracasso que aí está, gritante, diante de nós. Não é possível continuar dessa forma.
Segundo, porque estão aparecendo tentativas, em princípio muito bem-vindas, de recuperar a especificidade da alfabetização, mas é bom vermos qual caminho vão tomar.
Vamos lembrar a conhecida "teoria da curvatura da vara", muito em voga nos anos 70. Se temos uma vara encurvada e queremos que ela fique reta, curvamos a vara para o lado contrário para que ela fique depois na posição vertical. Isso é uma metáfora para mostrar um movimento que acontece com freqüência – se não sempre – na educação. Fomos para o lado do construtivismo, nada de método etc, depois vimos que não é nada disso. A tendência pode ser curvar a vara para o outro lado, à espera de que ela fique reta. Mas é preciso saber se é isso mesmo o que teria de ser feito. É preciso saber o que significa esse “curvar para o outro lado”. Pode significar voltar ao antigo – e é o que tem acontecido. As pessoas dizem: "Ah isso não funciona, e os meninos não estão aprendendo a ler e a escrever, então vou voltar àquele meu velho método silábico, alfabetizar na cartilha, porque tudo corria muito bem..."
Entretanto, voltar para o que já foi superado não significa que estamos avançando. Avançamos quando acumulamos o que aprendemos com o passado, juntando a ele as novidades que o presente traz. Estamos no momento crítico desse avanço. As pessoas estão insatisfeitas com o construtivismo, as denúncias já estão sendo feitas e começam a surgir iniciativas no sentido de corrigir essa situação.
Estamos na fase de reinvenção da alfabetização. A revista Educação do ano passado, cuja chamada de capa é Guerra de Letras, diz: "Adversários do construtivismo garantem que o antigo método fônico é mais eficaz no processo de alfabetização". Esse é um sinal que indica um momento de reinvenção da alfabetização. Um outro sinal é um texto da revista Ensaio, de abril de 2002, que traz um artigo com o seguinte título: "Construtivismo e alfabetização: um casamento que não deu certo".
O que considero preocupante, porém, é que esse movimento está indo em direção ao método fônico. Por quê? Para corrigir os problemas que estamos enfrentando, será que a solução é voltar a usar esse método? Por que essa ênfase no fônico? Quando falo em método fônico, refiro-me àquele método do 'casado', em que vinha uma letra de um lado e casava com a letra de outro lado, como aquelas antigas cartilhas fônicas. Mas certamente não é disso que os especialistas estão falando: o que se pretende é voltar a orientar as crianças na construção das relações fonema / grafema.
Nos Estados Unidos houve também o movimento do construtivismo, que lá chamavam de whole language, ou seja, língua total. Ele consistia em fazer o aluno conviver de maneira total com a língua. Essa foi a tradução da orientação construtivista nos Estados Unidos, e os resultados foram os mesmos: as crianças não estavam aprendendo a ler e escrever. O país se apavorou e o governo central encarregou um grupo de cientistas de fazer um levantamento das pesquisas produzidas até então no país a respeito da alfabetização, na tentativa de se descobrir como resolver o problema. O relatório, chamado de Reading Panel, ou "Painel da Leitura", analisou aproximadamente 1.800 pesquisas a respeito da alfabetização feitas naquele país. Os autores chegaram à conclusão de que as crianças aprendem quando se trabalham sistematicamente as relações fonema / grafema. Ou seja, é a aprendizagem do sistema de escrita, aquilo que chamo alfabetização na sua especificidade. Houve, então, uma determinação que causou impacto: todos teriam de ensinar o que eles chamam de fonics.
Se fôssemos traduzir para o português, seria alguma coisa como "fonismo", um substantivo. Usamos fônico como adjetivo, mas não temos um substantivo para esse adjetivo fônico. O que os especialistas americanos defenderam é que era necessário alfabetizar trabalhando-se as relações fonema / grafema. Eles não estabelecem método, eles estabelecem os princípios. A escola que busque o método, desde que esse método trabalhe a aquisição do sistema alfabético e ortográfico, o chamado fonics. A tendência que se tem fortalecido naquele país é a de retomar os trabalhos na linha das relações fonema / grafema. É a retomada da aquisição do sistema alfabético e ortográfico pela criança nas suas relações com o sistema fonológico. Esta é a tecnologia da alfabetização que eles pretendem aplicar.
E não foram só os EUA que fizeram isso. Na França aconteceu a mesma coisa. Neste pais, um órgão chamado Observatório Nacional da Leitura fez um estudo da alfabetização e chegou à conclusão de que é necessário trabalhar na linha do fônico, mas não no método antigo.
Inglaterra e Canadá também chegaram à mesma conclusão. É importante saber o que vem acontecendo em outros países para não acharmos que estamos fazendo bobagem. Todos estavam enfrentando esse problema, e os países que se preocuparam com essa questão foram na mesma direção, qual seja, insistir na especificidade da alfabetização como aprendizado do sistema alfabético / ortográfico e nas suas relações com o sistema fonológico.
No Congresso Nacional formou-se uma equipe, da qual não faço parte, para estudar o problema da alfabetização, levando em conta a literatura científica e a experiência internacional sobre o tema. Este fato já é um indicador muito significativo. Uma vez pronto o relatório dessa equipe, haverá um ciclo de debates na Câmara dos Deputados, na segunda quinzena de agosto do corrente ano, o que significa que teremos alguma novidade nessa área da alfabetização.
No início de minha exposição, levantei algumas questões polêmicas, algumas preocupações e dificuldades. Para terminar, proponho uma reflexão sobre o risco de reinventarmos a alfabetização. Embora ela esteja mesmo precisando ser reinventada e seja preciso recuperar sua especificidade, não podemos voltar ao que já foi superado. A mudança não deve ser um retrocesso, mas um avanço.

*Professora emérita da UFMG.
Parte de palestra proferida na FAE UFMG, em 26/05/2003, na programação "Sexta na Pós".
Transcrição e edição de José Miguel Teixeira de Carvalho e Graça Paulino.
Referências bibliográficas
CAPOVILLA, Alessandra & CAPOVILLA, Fernando. Alfabetização e método fônico. São Paulo: Mnemom, 2001
OLIVEIRA, João Batista Araújo. ABC da alfabetização. Belo Horizonte: Alfaeducativa, 2002
SCLIAR-CABRAL, Leonor. Princípios do sistema alfabético de português do Brasil. São Paulo: contexto, 2003.
________________________ Guia Prático de alfabetização. São Paulo: Contexto,2003
in Revista Presença Pedagógica (Julho/Agosto 2003) retirado de
http://www.editoradimensao.com.br/revistas/revista52_trecho.htm
SOARES, Magda. A reinvenção da alfabetização. Disponível em http://www.meb.org.br/biblioteca/artigomagdasoares. Acesso em: 3 mar. 2006.

Discurso vazio

Algumas expressões popularizadas no meio educacional são usadas hoje com um sentido muito diferente do que tinham originalmente, mostrando que muitos educadores estão se apoiando em idéias frágeis
Beatriz Santomauro e Beatriz Vichessi

A fala dos educadores brasileiros nunca esteve tão afiada. Conceitos importantes da Pedagogia e as práticas de sala de aula mais valorizadas hoje estão na ponta da língua e ajudam a definir o trabalho docente. Não é preciso estar entre grandes mestres para ouvir citações de Paulo Freire (1921-1997), como a importância de "focar a realidade do aluno" durante o planejamento, ou sobre o construtivismo - a necessidade de "levantar o conhecimento prévio" da turma.

No entanto, conforme a conversa avança, percebe-se que, na média, ela está calcada num discurso vazio (tal qual as palavras nos balões que ilustram esta reportagem). O resultado é a transformação de idéias consagradas - como formar cidadãos - em jargões que perderam o significado original. Esse conceito, difundido com a redemocratização do país, relacionava-se à necessidade de as pessoas terem um preparo que lhes permitisse atuar na sociedade - incluído aí saber ler e escrever e os demais conteúdos do currículo.
Hoje, o sentido de cidadania propagado em muitos projetos está relacionado apenas a ações de preservação ambiental ou de cunho social - como se socializar o conhecimento construído pela humanidade, ou seja, ensinar, já não fosse tarefa suficiente para a escola. "Os professores usam essas expressões sem refletir sobre elas e sem compreender em que se baseiam", ressalta Raymundo de Lima, professor do Departamento de Fundamentos da Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e estudioso do discurso docente.

Essa realidade revela, mais uma vez, a precariedade da formação dos educadores, que se ressentem por não terem um conhecimento pedagógico adequado. "Eles buscam um referencial teórico, mas, como não conseguem se aprimorar, acabam fazendo no dia-a-dia um trabalho intuitivo e equivocado", afirma Andrea Rapoport, doutora em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A conclusão é resultado de uma pesquisa realizada por ela para identificar os referenciais citados pelos docentes. "Grande parcela dos que afirmam se basear em determinadas correntes pedagógicas ou pensadores deixa o discurso cair por terra quando precisa justificar essas escolhas", analisa Andrea.
Muitas das expressões que estão na boca dos educadores não surgiram do nada. Ao contrário, exprimem conceitos importantíssimos. Separadas dos contextos históricos e teóricos em que foram criadas, no entanto, elas acabaram sendo banalizadas. Hoje, é difícil encontrar um professor que não afirme fazer uma avaliação formativa. Porém quantos realmente sabem como ela deve ser realizada e para que servem seus resultados?

Diante disso, a proposta desta reportagem é contribuir para colocar um fim nesse blablablá da Educação, ajudando a deixar as frases-prontas de lado e a se aprofundar no verdadeiro significado das idéias por trás delas - a princípio, tão ricas. Selecionamos dez expressões populares no Magistério atualmente e mostramos de onde elas provêm, seu sentido original e como foram distorcidas (leia o destaque à direita e os demais nas próximas páginas). Essa leitura é apenas um ponto de partida para o desafio, que requer muito estudo. Mas o fim do discurso vazio certamente virá acompanhado de um impacto positivo na qualidade das aulas.

Aprender brincando

Conceito original:
Uma das maneiras de adquirir conhecimento, possibilitada por diferentes atividades, mas não essencial.

Conceito distorcido:
Única maneira de adquirir conhecimento, possibilitada por diferentes atividades, e principal motivação para o estudo.

Origem
O aprender brincando surgiu em reação a antigas práticas escolares. Até a década de 1960, eram comuns os castigos físicos e as propostas de ensino que não consideravam os conhecimentos de crianças e jovens nem se preocupavam em envolvê-los em desafios que fizessem sentido para eles.

De fato, o processo de aprendizado nem sempre é fácil, mas resulta em satisfação. A criança aprende de muitas maneiras e com base em diferentes recursos: convivendo com os colegas, se comunicando com adultos e descobrindo seus limites em situações formais e informais.

Por que perdeu o sentido
A difusão do "aprender brincando" ocorreu em oposição ao que é apresentado como difícil. "Passou-se de um extremo a outro, isto é, de uma aprendizagem com sofrimento para a brincadeira", explica Esther Pillar Grossi, professora e fundadora do Grupo de Estudos Sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação. A questão é isso ter se tornado a principal forma de ensinar e uma das motivações intrínsecas ao aprendizado. Desse modo, fica a impressão de que brincar é essencial para mediar as situações de ensino. "O dito em espanhol 'la letra con sangre entra' particulariza, para a alfabetização, a idéia de que aprender é algo muito penoso e desagradável", explica Esther.

No livro Os Jogos e o Lúdico na Aprendizagem Escolar, o professor Lino de Macedo, da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o lúdico deve propor desafios ao estudante e encaminhá-lo para a construção dos conhecimentos, mas não significa necessariamente algo agradável na perspectiva de quem faz a atividade. "Se fosse só assim, poderíamos, por exemplo, vir a ser reféns das crianças ou condenados a praticar coisas engraçadas, mesmo que sem sentido."

O objetivo da escola é ensinar os conteúdos das diferentes disciplinas, e não necessariamente proporcionando divertimento o tempo todo. A aprendizagem gera conflito, exige que a criança fique instigada a buscar respostas a problemas apresentados a ela e levanta dúvidas. O que precisa trazer prazer é a satisfação de aprender, evoluir e se apropriar do conhecimento. "A máxima da escola não pode ser aprender brincando porque aprender é difícil - assim como ensinar", conclui Tereza Perez, diretora do Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária (Cedac).

Levantar o conhecimento prévio

Conceito original:
Propor uma atividade para verificar o nível de conhecimento dos alunos sobre um tema como forma de planejar novas intervenções.


Conceito distorcido:
Perguntar o que os alunos já sabem para verificar o nível de conhecimento deles e registrar o que foi dito.

Origem
A importância do conhecimento prévio - um conjunto de idéias, representações e dados que servem de sustentação para um novo saber - se desenvolveu a partir da segunda metade do século 20 com o construtivismo. Nessa concepção, não existe ponto de partida zero sobre o que se vai ensinar ou aprender. Todos (alunos e professores) sempre sabem alguma coisa, mesmo que de modo implícito, do tema a ser trabalhado. Investigar o conhecimento, dentro dessa perspectiva, representa o início da relação entre o ensino e a aprendizagem. "O estudante é compreendido como alguém que domina algumas coisas e, diante de novas informações que para ele fazem algum sentido, realiza um esforço para assimilálas", explica Telma Weisz, consultora da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, no livro O Diálogo Entre o Ensino e a Aprendizagem. Ao fazer uma avaliação antes de iniciar um conteúdo, o professor consegue planejar suas interferências porque tem meios de determinar por onde começar. A ação nas próximas etapas não fica só intuitiva - é direcionada para "o que" e "como" deve ensinar.

"Não se trata de um teste, mas de uma situação real de ensino. As atividades indicadas para dar início a um projeto são aquelas que ativam os saberes das crianças", diz Regina Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA. Nesse tipo de atividade, cada aluno vai buscar os dados em seu repertório interno de maneira diferente. "O conhecimento prévio é relativo a cada um e, por isso, supõe uma investigação caso a caso", completa Macedo, da USP.

Por que perdeu o sentido
Ao longo dos anos, os professores reconheceram a importância de investigar o que crianças e jovens já sabem antes de começar o trabalho sobre um novo tema. No entanto, mesmo sem ter aprendido exatamente como fazer isso, muitos deles passaram a utilizar a expressão em seu dia-a-dia. Em certos casos, eles até fazem uma avaliação inicial e registram comentários, mas não utilizam esses dados para planejar as aulas ou pensar sobre as intervenções que necessitam ser feitas em classe.

É preciso ter clareza também que não é perguntando o que o aluno já sabe sobre um assunto que se faz o levantamento do conhecimento prévio, mesmo porque nem sempre é fácil para ele verbalizar as informações quando é questionado. Além disso, cada conteúdo de ensino requer uma forma de abordagem. Não adianta questionar sobre temas já dominados nem ser tão desafiador a ponto de a turma não conseguir sequer entender a proposta. Outro equívoco é considerar que tudo o que foi trabalhado foi aprendido e, por isso, é possível seguir adiante. Conhecimento prévio não pode ser confundido com pré-requisito, exigência de aprendizagem que todos devem possuir como base para a experiência seguinte.

Formar cidadãos

Conceito original:
Objetivo da escola que se baseia no ensino dos conteúdos curriculares com a finalidade de preparar pessoas bem informadas e críticas.


Conceito distorcido:
Objetivo da escola que se baseia em ações sociais e de preservação do meio ambiente com a finalidade de preparar pessoas conscientes de seu papel na comunidade.

Origem
A frase começou a se popularizar entre os professores em meados da década de 1980 como conseqüência da redemocratização brasileira. "O surgimento do sujeito crítico, criativo e participativo se deu, institucionalmente, com o renascimento da autonomia do país após a ditadura", afirma Maria de Lourdes Ferreira, docente da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri, em Minas Gerais, e autora de diversos trabalhos sobre o tema. A Constituição de 1988 define cidadania como um dos princípios básicos da vida e ressalta que as instituições sociais, dentre elas a escola, precisam estar comprometidas com a formação cidadã. Cerca de dez anos depois, o papel da escola nesse processo foi descrito nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que se definem como meio de garantir que "a Educação possa atuar, decisivamente, no processo de construção da cidadania".

Cabe à escola, portanto, formar pessoas bem informadas, críticas, criativas e capazes de avaliar sua condição socioeconômica, dimensionar sua participação histórica e atuar decisivamente na sociedade e na economia. E isso se faz quando todos os professores cumprirem o dever de ensinar os conteúdos curriculares, a começar por ler e escrever.

Por que perdeu o sentido
Além das instituições de ensino, participam de forma fundamental na construção da cidadania o governo, as organizações sociais e a família. Interpretações equivocadas sobre a função de cada uma dessas instâncias na formação do cidadão levaram a uma descaracterização do papel da Educação. Outro fator decisivo para a deturpação da idéia foi a falta de um currículo definido em cada rede - detalhando o que ensinar em cada série e disciplina -, o que tem levado muitas escolas a trabalhar sem uma proposta pedagógica clara e objetiva. Para completar, muitos professores não fazem um planejamento focado nos conteúdos de cada área.

No livro Escola e Cidadania, o sociólogo suíço Philippe Perrenoud provoca: "De que serve aprender princípios cívicos ou detalhes da organização do Estado quando não se consegue ler o texto de uma lei?" Para o educador, a formação da cidadania passa pela "construção de meios intelectuais, de saberes e de competências que são fontes de autonomia, de capacidade de se expressar, de negociar, de mudar o mundo".

Esse esvaziamento da função primeira da escola gerou uma série de atividades sem foco na aprendizagem que, supostamente, têm o objetivo de despertar a cidadania e provocar a conscientização de crianças e jovens. Dentre essas situações têm destaque as campanhas e os projetos sobre meio ambiente, diversidade cultural e violência. "É enorme o número de projetos enviados ao Prêmio Victor Civita Educador Nota 10 com o objetivo de despertar a consciência ambiental e o respeito pelas diferenças com a justificativa pura e simples de que são importantes para a formação do cidadão", conta Regina Scarpa. O que os alunos aprendem, efetivamente, ao fim de um trabalho desses? Se a proposta apresentada é recolher material reciclável, a turma vai aprender a recolher material reciclável, e o objetivo de um projeto não pode ser só esse.

Ter uma turma heterogênea

Conceito original:
Comandar uma classe em que os alunos apresentam diferentes níveis de conhecimento, o que faz com que avancem por meio de atividades diversificadas.


Conceito distorcido:
Comandar uma classe problemática em que os alunos apresentam diferentes níveis de conhecimento, razão pela qual alguns deles não avançam.

Origem
Com a criação dos grupos escolares, logo após a proclamação da República, no fim do século 19, surgiu o que se convencionou chamar de turmas homogêneas. O conceito se encaixa numa antiquada corrente pedagógica que trabalha para um único perfil de aluno e pressupõe que existe uma turma com características semelhantes e, portanto, homogênea. Os exercícios de repetição eram a única estratégia de ensino, fazendo parecer que todos os estudantes tinham o mesmo desempenho e ritmo de aprendizagem. Afinal, eles seguiam modelos e apenas uma resposta era correta. A partir da década de 1930, a Educação passou a acolher as preocupações da Psicologia quanto às diferenças entre os indivíduos e a usar situações-problema. Lev Vygotsky (1896-1934) escreveu em A Formação Social da Mente que o educador deve ter uma estratégia diferenciada para cada criança porque elas não sabem igualmente o mesmo conteúdo nem aprendem de uma só maneira. Já na década de 1990, a ampliação do atendimento escolar fez chegar à sala de aula crianças de classes sociais menos favorecidas, o que deixou mais clara essa heterogeneidade.

Por que perdeu o sentido
A mudança na forma de ensinar e a universalização do Ensino Fundamental acabaram, definitivamente, com a ilusão da homogeneidade. Ao mesmo tempo, a expressão "turmas heterogêneas" passou a ser usada como uma das explicações para o fato de alguns não avançarem nos conteúdos. O conhecimento dos alunos pode não corresponder ao esperado para a série, mas essa variedade de níveis em uma turma tem de ser usada de forma produtiva. "A troca de saberes entre os pares deve ser buscada: o desafio é encarar cada um na sua individualidade e promover a interação entre as diferentes habilidades a favor da aprendizagem", explica Lino de Macedo. Nos trabalhos em grupo, quem domina conteúdos e procedimentos diversos pode confrontar hipóteses, compartilhar estratégias e colaborar com os colegas.

Aumentar a auto-estima

Conceito original:
Conseqüência de um trabalho baseado no ensino dos conteúdos e na necessidade de cada aluno.


Conceito distorcido:
Objetivo de todo trabalho feito em classe, conquistado por meio de elogios e de premiações a cada aluno.

Origem
A expressão se popularizou com a universalização do Ensino Fundamental, nos anos 1990, quando muitos dos estudantes de baixa renda que ingressaram na escola tinham dificuldade na alfabetização e na aprendizagem das várias disciplinas. Professores creditavam isso à baixa auto-estima gerada pela pobreza. A idéia é equivocada e preconceituosa, como provam diversos estudos. A auto-estima não é determinada pelo nível socioeconômico ou cultural. "O que leva a uma maior valorização pessoal é aprender", afirma Beatriz Cardoso, diretora do Cedac.

Por que perdeu o sentido
Com o objetivo de aumentar a auto-estima das crianças, instituições do terceiro setor passaram a oferecer programas culturais e as escolas a propor atividades que não têm um foco claro na aprendizagem dos conteúdos. Ao mesmo tempo, premiações e elogios viraram moda. "Pensar que a garotada precisa de afago e estrelinhas mostra um distanciamento do que é essencial na Educação, que é promover conhecimento", completa Beatriz.

Fazer avaliação formativa

Conceito original:
Utilizar vários instrumentos de verificação da aprendizagem como forma de analisar o nível de conhecimento da classe e planejar estratégias de ensino.


Conceito distorcido:
Observar a aprendizagem como forma de classificar os alunos.

Origem
A avaliação formativa enfoca o papel do estudante, a aprendizagem e a necessidade de o educador repensar o trabalho para melhorá-lo. A prática surge da preocupação com o processo de aprendizagem e não só com o produto ou com as notas como ponto final da aprendizagem. Testes, análises de relatórios, provas, apresentações orais, comentários ou produção de textos se aplicam também à perspectiva tradicional de ensino. "O que diferencia as duas é o que se faz com os dados: enquanto no jeito tradicional os exames são classificatórios, na avaliação formativa eles servem para redirecionar o trabalho docente para permitir que cada um avance em seu ritmo", diz Cipriano Luckesi, da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.

Por que perdeu o sentido
Cientes de que é necessário ficar constantemente atentos a todo o percurso de aprendizagem, os professores começaram a empregar a observação como estratégia do que passaram a chamar de avaliação formativa. Além de não utilizarem o resultado dessa análise para redirecionar a prática, deixam de lado as provas e outros instrumentos de verificação da aprendizagem. A razão é o fato de as notas não serem mais tão valorizadas como a única função da avaliação. O resultado disso é que não conseguem mensurar quanto as turmas avançaram na aprendizagem de cada conteúdo. "A avaliação só tem sentido se visa como ponto de partida e de chegada o processo pedagógico", dizem Delia Lerner e Alicia Palacios de Pizani no livro A Aprendizagem da Língua Escrita na Escola.

Trabalhar a interdisciplinaridade

Conceito original:
Relacionar os conteúdos das diversas áreas quando isso for necessário para a compreensão de um conceito, sem esquecer as características das didáticas específicas de cada uma delas.


Conceito distorcido:
Relacionar os conteúdos das diversas áreas em todos os projetos propostos aos alunos.

Origem
O conceito de interdisciplinaridade surgiu no fim da década de 1960, na França e na Itália, e logo chegou aos Estados Unidos. Nessa época, os universitários lutavam contra a fragmentação das áreas e sua especialização, buscando a aproximação do currículo aos temas políticos e sociais. O discurso chegou ao Brasil e foi impulsionado pelos "temas geradores", conceito apresentado por Paulo Freire no livro Pedagogia do Oprimido, de 1968. De acordo com ele, a intenção era propor aos indivíduos dimensões significativas de sua realidade, cuja análise crítica lhes possibilitasse reconhecer a interação entre as partes. Dessa forma, eles poderiam compreender melhor o mundo e atuar nele de forma consciente e participativa. Freire diz ser indispensável ter, antes, a visão total do contexto para, depois, separar seus elementos. Com esse isolamento, é possível voltar com mais clareza ao todo analisado.

No Ensino Fundamental, um trabalho interdisciplinar é aquele em que se estuda um tema integrando disciplinas com a intenção de que o conhecimento seja global e tenha significado para a garotada. Ele deve ser bem delimitado e permitir que haja o diálogo entre os conteúdos estudados para que os saberes sejam aprofundados. "O conhecimento é interdisciplinar. Ele é formado por fatos, conceitos e procedimentos relativos a áreas diferentes", diz Tereza Perez, do Cedac.

Por que perdeu o sentido
A idéia começou a ser valorizada e a ganhar adeptos por todo o país com o passar dos anos. Na década de 1990, quando Freire assumiu a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, ela chegou a muitas escolas paulistanas. No entanto, não foi sempre bem aplicada. Em primeiro lugar porque nem todo bom projeto necessita ser interdisciplinar, como muitos acreditam. Alguns conteúdos são bem ensinados em apenas uma área, não precisando de interação com as demais.

A relação entre as disciplinas deve aparecer dentro de situações didáticas que realmente possibilitem a aprendizagem em cada uma delas - e não apenas num formato em que sejam utilizados conhecimentos já adquiridos. Mostrar um mapa na aula de Matemática, por exemplo, não é ensinar Geografia, assim como apenas pedir a leitura de um texto de História não é aprofundar-se na Língua Portuguesa. O trabalho interdisciplinar terá cumprido sua função se o aluno passar de um estágio de menor conhecimento para outro de maior conhecimento em cada um dos conteúdos envolvidos.


Partir do interesse dos alunos

Conceito original:
Considerar a criança e seus interesses como foco do processo educacional por meio da avaliação do que ela já sabe como forma de levá-la a um nível maior de conhecimento.


Conceito distorcido:
Considerar a criança e seus interesses como foco do processo educacional e ensinar o que ela está com vontade de aprender.

Origem
A idéia nasceu com a Escola Nova, no início da década de 1930. O movimento é considerado o mais vigoroso grupo de renovação da Educação do país depois da criação da escola pública burguesa. Os ideais escolanovistas se popularizam no Brasil pela ação de um grupo de intelectuais liderados por Anísio Teixeira (1900-1971). "O grupo de Teixeira se opunha à visão tradicional da escola, na qual cabe ao professor transmitir conhecimentos aos alunos, que devem permanecer em silêncio e atentos às explicações", explica Raymundo de Lima, da UEM. Para o movimento, o aumento do poder do estudante era essencial - sua vontade e sua capacidade de agir, espontaneamente, deveriam substituir a imposição, pelo professor, de julgamentos prontos. "Essa foi a primeira tentativa no país de diminuir a verborragia dos mestres em aula e de olhar mais para crianças e jovens", ressalta Lima.

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi lançado em março de 1932 e assinala que a "nova doutrina, que não considera a função educacional como uma função de superposição ou de acréscimo (...), transfere para a criança e para o respeito de sua personalidade o eixo da escola e o centro de gravidade do problema da Educação". Passou-se a considerar o que os alunos pensam e a entender que eles têm idéias a ser respeitadas.

Por que perdeu o sentido
Apoiados na concepção de que é necessário ter como base o interesse da turma, muitos educadores passaram a colocar a intencionalidade do ensino e o planejamento prévio em segundo plano. Essa deturpação foi ganhando espaço a ponto de algumas escolas chegarem a começar o ano sem determinar quais conteúdos devem ser trabalhados em aula e a orientar o corpo docente a descobrir primeiro o que a garotada quer estudar para depois se planejar. "A idéia, em casos como esses, é que alguns temas geradores podem levar a aulas mais participativas", explica Priscila Monteiro, consultora educacional, formadora de professores e selecionadora do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10. "O problema é que, sem um planejamento detalhado e um currículo claro a seguir, a tendência é de perda na qualidade do ensino", diz ela.

Em didática, são três os pilares do processo de ensino e de aprendizagem: o conteúdo, a maneira como a criança aprende e o modo como o professor ensina. Na escola tradicional, o foco está no conteúdo e o mestre é quem domina e transmite seu saber. Com a Escola Nova, houve uma mudança: a figura central passou a ser o aluno e seus interesses. "Basear-se apenas no que ele quer aprender, contudo, é uma idéia restritiva, pois cabe à escola trabalhar conteúdos novos e desconhecidos e que, por isso, não podem ser mencionados naturalmente como uma curiosidade", ressalta Priscila.

É claro que o interesse que as turmas têm por determinados assuntos deve ser considerado. No entanto, é preciso ter como base os conhecimentos didáticos específicos para planejar a abordagem e as intervenções a fazer. O grande desafio hoje é desenvolver a sensibilidade para propor situações-problema desafiadoras que despertem a atenção de todos.

Desenvolver a criatividade

Conceito original:
Levar o estudante a propor diferentes soluções para um problema com base em informações sobre o tema.


Conceito distorcido:
Levar o estudante a realizar atividades do jeito que ele preferir.

Origem
A valorização da criatividade como uma capacidade humana que deve ser estimulada começou a ocorrer no começo da década de 1950, com a mudança de conceitos vigentes até então. "Nesse período, muitos acreditavam que a inteligência era uma dimensão relativamente fácil de ser medida e a criatividade era um atributo de poucos privilegiados", explica Eunice Soriano de Alencar, da Universidade Católica de Brasília. Uma série de pesquisas realizadas, sobretudo nos Estados Unidos, mostrou que não é possível medir a inteligência de maneira satisfatória e que, na realidade, ser criativo é algo inato a todo ser humano.

A partir dos anos 1980, dezenas de livros sobre o tema foram publicados, revelando que um ambiente livre e propício à inventividade ajuda a desenvolver essa capacidade. Com as mudanças tecnológicas e sociais do mundo contemporâneo, estimular o lado criativo das pessoas passou a ser vital e a escola acabou vista como uma das principais responsáveis por esse trabalho. "Estar preparado para solucionar problemas de forma criativa é algo indispensável no cenário deste novo milênio, em que inovar é uma palavra de ordem", acredita Eunice.

Por que perdeu o sentido
Considerando a importância de desenvolver a criatividade da turma, muitos professores passaram a propor atividades sem um conteúdo claro de aprendizagem e a justificar seu objetivo como sendo o de estimulá-la. O problema disso é que o objetivo da escola é ensinar conteúdos específicos, o que pode ser foco de avaliação para determinar se a turma avançou ou não - o que é mais difícil de ser feito quando falamos de um conceito como a criatividade. Além disso, é importante ressaltar que não se pode desenvolver a capacidade de criar lançando mão de qualquer tipo de trabalho e que ninguém inventa algo de maneira espontânea.

Os alunos necessitam de um repertório amplo para que consigam desenvolver essa capacidade com autonomia. Não é a inspiração que importa, mas o empenho e o trabalho realizado. "Criatividade é a capacidade de fazer relações entre os conhecimentos. Assim como só se aprende algo novo com base no que já conhecemos, só é possível criar com base em nosso conhecimento prévio sobre um assunto", explica Monique Deheinzelin, orientadora de projetos curriculares, formadora de professores e autora de diversos livros sobre o tema.

Cabe à escola, portanto, dar oportunidades para todos desenvolverem seu percurso criador, promovendo a flexibilidade, a abertura ao novo, a habilidade de propor soluções inovadoras para problemas diversos e a coragem para enfrentar o inesperado. O educador pode trabalhar atividades que não sejam tão fechadas a ponto de permitir somente uma resposta e nem tão abertas para que qualquer coisa possa ser aceita. "Pedir trabalhos com um produto final já conhecido ou propor atividades mecânicas e repetitivas, como colocar as crianças para pintar um desenho pronto, não leva ninguém a ser mais criativo", explica Monique. Para isso, é preciso propor ações transformadoras, por meio das quais sejam mobilizados novos saberes.

Focar a realidade do aluno

Conceito original:
Considerar o saber trazido pelos alunos como um ponto de partida e sempre apresentar a eles novos conhecimentos.


Conceito distorcido:
Basear-se somente no saber trazido pelos alunos como parâmetro para determinar o que lhes interessa aprender.

Origem
A idéia foi muito propagada por Paulo Freire, que valorizava a presença do saber dos estudantes das camadas populares na sala de aula. Ele propunha que, com uma pesquisa prévia do universo dos termos falados pelos educandos, fossem selecionados alguns - as chamadas palavras geradoras - para que propiciassem a formação de outros e também funcionassem como ponto de partida para que a turma compreendesse o mundo e organizasse seu pensamento a respeito dele. Ou seja, Freire sempre destacou a necessidade de ultrapassar as fronteiras da realidade mostrada pelas palavras. Tanto que ele defendia a Educação como prática de liberdade e dizia que "o povo tem o direito não só de saber melhor o que já sabe mas também saber o que ainda não sabe". Por isso, defendia que é importante ampliar e aprofundar o conhecimento sempre.

Por que perdeu o sentido
Muitos professores trabalham concentrados somente no meio em que vivem os estudantes e acabam por simplificar o pensamento freireano, julgando que isso facilita o aprendizado. Acreditam que é preciso tomar como base só o que já é conhecido. Então, ensinam primeiro o conceito de bairro para depois apresentar o de cidade, estado e país, por exemplo. Como se a lógica de compreensão dos conceitos estivesse atrelada à maior ou à menor proximidade física e como se fosse possível mensurar a complexidade desses conceitos baseando-se nas dimensões geográficas. "Não se aprende somente com base no que temos à nossa volta, no que é considerado 'concreto' e no que os adultos consideram simples", afirma Roberta Panico, do Cedac.

Outra crença que criou raízes no pensamento dos educadores é que a realidade é o limite do que deve ser ensinado. O professor não pode decidir não trabalhar conceitos relativos ao sertão porque leciona em uma região litorânea. "O mal provocado por essa atitude é a condenação do aluno à estagnação. Com isso, a escola deixa de cumprir seu papel", diz Vera Barreto, coordenadora do Vereda - Centro de Estudos em Educação. Entrar em contato com o diferente permite analisar a realidade com mais riqueza porque oferece fontes para comparação.

Ir além do que já é conhecido também garante o cumprimento do que sugerem os PCNs, já que o cotidiano de um estudante que é filho de operários da construção civil, por exemplo, não tem vínculos com a sociedade da Grécia antiga, tema presente nas aulas de História. "Se o professor ficar focado somente no local, não terá como abordar todos os conteúdos", completa Vera.

Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
A Aprendizagem da Língua Escrita na Escola, Delia Lerner e Alicia Palacios de Pizani, 104 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444 (edição esgotada)
A Formação Social da Mente, Lev Vygotsky, 224 págs., Ed. Martins Fontes, tel. (11) 3241-3677, 39,80 reais Avaliação da Aprendizagem Escolar, Cipriano Carlos Luckesi, 182 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3611-9616, 25 reais
Construtivismo: A Poética das Transformações, Monique Deheinzelin, 142 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 20 reais
Criatividade e Educação de Superdotados, Eunice Soariano de Alencar, 232 págs., Ed. Vozes, tel. (11) 3105-7144, 37,20 reais
Escola e Cidadania, Philippe Perrenoud, 184 págs., Ed. Artmed, 42 reais
Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa, Ivani Fazenda, 144 págs., Ed. Papirus, tel. (19) 3272-4500, 32,50 reais
O Diálogo Entre o Ensino e a Aprendizagem, Telma Weisz, 136 págs., Ed. Ática, 34,90 reais
O Ensino de Matemática Hoje, Patricia Sadowsky, 112 págs., Ed. Ática, 24,90 reais
Os Jogos e o Lúdico na Aprendizagem Escolar, Lino de Macedo e outros, 110 págs., Ed. Artmed, 28 reais
Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire, 213 págs., Ed. Paz e Terra, tel. (11) 3337-8399, 35 reais

Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-inicial/discurso-vazio-466745.shtml

APRENDER A LER E A ESCREVER ALÉM DAS LETRAS - Eloiza Schumacher Corrêa

Reconhecer a escrita como linguagem significa admitir que seu ensino vai muito além do código e que é necessária uma abertura suficiente para encontrar possibilidades ampliadas de atuação
Encontrar caminhos que ajudem a fugir da produção de uma "fala morta" talvez seja um dos grandes desafios que temos enfrentado nas últimas décadas no que se refere ao trabalho com a alfabetização. Tornam-se cada vez mais freqüentes as iniciativas que explicitam que há muito a fazer em relação às possibilidades de interagir com uma escrita que tenha verdadeiramente um propósito comunicativo. Hoje podemos dizer que o espaço ocupado pela escrita no ambiente escolar já não é mais tão estreito assim.
Contudo, mesmo sabendo que os textos − felizmente − são presença constante nas salas de aula, ainda observamos seu uso apenas como pretexto para ensinar o código. Quando falamos em escrita, o que primeiro vem à mente são as letras, as palavras e a infinidade de combinações delas decorrentes. Nem poderia ser diferente, uma vez que escrever, numa primeira dimensão, significa registrar caracteres. E, nessa dimensão, conhecemos diversas possibilidades para ensinar a produzir e a reconhecer esses caracteres, ou seja, para adquirir o código. Entretanto, reconhecer a escrita como linguagem significa admitir que seu ensino vai muito além do código e que é necessária uma abertura suficiente para encontrar possibilidades ampliadas de atuação.
Desse modo, proponho neste artigo o exercício de compreender a escrita como linguagem e refletir sobre os desdobramentos decorrentes dessa compreensão na prática pedagógica. Pensar sobre qualquer linguagem (oral, corporal, gestual, midiática, gráfica, plástica, musical, escrita, fotográfica, gustativa, tátil, etc.) leva a pensar no desenvolvimento da expressividade, entendida aqui como a capacidade do sujeito de se fazer entender e entender o outro através de um sistema de signos.
Assim, a primeira condição para o desenvolvimento da expressividade é estar em interação com os outros. Embora essa constatação pareça óbvia, nem sempre é colocada em prática no cotidiano das escolas. Diria até mais do que isso: nem sempre é vinculada ao ensino da escrita. Quando nos aventuramos a fazer esse tipo de vinculação, novas necessidades no trabalho com a linguagem escrita na sala de aula fazem-se presentes. A intencionalidade do professor como alguém que organiza ações voltadas para a ampliação das capacidades expressivas torna-se muito relevante e abre-se espaço para outras modalidades de ação. Isso implica a possibilidade de encontrar no significado inerente às linguagens em geral brechas para o trabalho com a linguagem escrita.
Assim, não precisamos acreditar que só se aprende a ler e a escrever com letras, pois o que está em jogo são as habilidades necessárias para o sujeito ler e escrever, processo tão bem sintetizado por Magda Soares (1998) ao se referir às habilidades de leitura e escrita. Pensar dessa forma envolve a reflexão sobre o que é necessário para produzir linguagem escrita. Claro que o reconhecimento de caracteres faz parte, porém ficar restrito a isso é abortar a riqueza e a complexidade da linguagem escrita. Para ler e escrever é preciso muito mais. Como afirma Geraldi (1991), é preciso que o sujeito tenha o que dizer, tenha uma razão para dizer o que tem a dizer, tenha para quem dizer o que tem a dizer, constitua-se como sujeito que diz o que diz para quem diz e escolha estratégias para fazer tudo isso. Portanto, quando o propósito comunicativo das linguagens passa a ser realmente importante, antes e junto com o ensino das letras, devem ser criadas condições para exercitar a comunicabilidade. Para ampliar as possibilidades de expressão das crianças, é preciso compreender cada representação/produção como ato comunicativo (e, por isso, passível de ser socializado, lido e entendido pelo outro) e oferecer ferramentas para potencializar essa comunicabilidade.
Nesse caso, torna-se possível transformar a sala de aula em um ambiente comunicativo (seja na relação entre a criança e seu grupo, entre a criança e o professor, entre grupo e família, entre grupos, entre grupo e instituição). Ou seja, conceber que tudo o que é produzido, na sala ou fora dela, tem uma mensagem a ser entendida, e não somente uma letra, palavra ou sílaba para ser identificada. Quando, por exemplo, solicita-se às crianças que utilizem revistas na sala de aula, comumente os professores pedem que procurem palavras com tal letra, que recortem palavras que comecem igual ao seu nome ou que tenham tal sílaba, enfim, propostas reféns da aquisição do código, cujas habilidades requeridas são basicamente perceptivas e motoras. Transcender isso significa pensar na funcionalidade da revista na vida cotidiana: não lemos revistas para procurar letras ou palavras, mas sim para nos informar, nos divertir, nos distrair, saber o modo de fazer algo ou até mesmo descobrir uma fofoca. Porém, a escola age como se todos esses aspectos não fossem importantes.
Ao ver crianças interagindo com revistas, podemos notar que elas comentam sobre as gravuras, ensaiam a leitura dos textos, riem, trocam opiniões - não ficam procurando letras! Acredito que, se as propostas passarem a se centrar exatamente no que contam as revistas, teremos mais ganhos em relação à comunicabilidade. Propostas desse tipo desencadeiam assuntos, emoções, argumentações, risos. Por isso, tenho certeza de que também teremos mais ganhos em relação à alegria, ao prazer de conversar com o outro, à exposição de opiniões, à busca de informações e de conhecimentos para sustentar essas opiniões, a um contato com textos permeado pela curiosidade. No ano passado, minha filha, então com seis anos, enquanto brincava em casa, escreveu um hino para a Copa do Mundo. Como toda mãe coruja, achei o hino maravilhoso! Independentemente disso, eu fico pensando que textos como o seu, que realmente comunicam idéias, é que deveriam ir para a sala de aula, não para serem explorados do ponto de vista da ortografia e do reconhecimento dos sinais gráficos, mas para serem interpretados e enriquecidos com as opiniões de todos da sala. Quantos assuntos − seja através de desenhos, músicas, jogos − as crianças teriam para falar sobre a Copa do Mundo no ano passado! Da mesma forma, quantas oportunidades para incrementar seus discursos com a leitura e a interpretação de imagens e textos de jornais, revistas e televisão estavam disponíveis.
Descobriremos uma fonte inesgotável de alternativas para ampliar as possibilidades comunicativas das crianças quando nos interessarmos de fato por aquilo que elas têm a dizer nas mais diferentes linguagens e, sobretudo, quando conseguirmos, a partir desse interesse, oferecer ferramentas que ampliem suas possibilidades do dizer. Tal prática requer disposição para compreender suas produções como elementos comunicáveis e passíveis de serem entendidos pelo outro e, além disso, abertura para compreender que as crianças se relacionam com os mais diversos textos − plásticos, gráficos, escritos ou musicais − com a intenção de interagir com eles. Contudo, não basta apenas solicitar às crianças que desenhem, pintem, colem, façam esculturas para depois guardar as produções na pasta ou deixá-las expostas na parede para exibir aos pais. Mais do que isso, é preciso criar meios para refinar suas habilidades de comunicação, encorajando-as a explicar o que queriam dizer ou por que fizeram aqueles trabalhos, estimulando-as a pensar em títulos e comentários esclarecedores, explorando as possibilidades do dizer, a busca de recursos para expressar o que se quer, seja através do destaque e da transformação de traços, da inclusão de detalhes, da socialização de modelos, da oferta de novos materiais, do ensino de novas técnicas. Ou seja, é fundamental fazer a turma esforçar-se para entender e ser entendida, o que só vai ocorrer se suas produções forem expostas ao olhar do outro e colocadas para a apreciação e a discussão coletivas.
Quem sabe, esse não é um dos caminhos para que possamos deixar de entender o desenho, o jogo, a literatura como passatempos - o que se faz com freqüência nas escolas - e começar a entendê-los como linguagens repletas de idéias a serem exploradas? Quem sabe, esse não é um bom caminho para termos uma educação mais sensível às necessidades infantis, ato tão necessário quando se pensa que crianças menores estão agora, com o ensino fundamental de nove anos, obrigatoriamente na escola para serem alfabetizadas? Pablo Neruda disse certa vez: "Escrever é fácil: você começa com letra maiúscula e termina com ponto final. No meio você coloca idéias". É exatamente nesse "meio" que podemos concentrar nossas ações, o que não se faz somente com letras e palavras.
Eloiza Schumacher Corrêa é consultora de educação nas redes de ensino pública e privada nas áreas de educação infantil e ensino fundamental, pedagoga e assistente social, especialista em Alfabetização e Educação Sexual
eloiza.c@superig.com.br
REFERÊNCIAS
GERALDI, J.W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SOARES, M.B. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
http://www.revistapatio.com.br/conteudo_exclusivo_conteudo.aspx?id=59

Turmas Brasil Alfabetizado - 6a etapa - 2009/2010 - Baixadas Litorâneas I

PROF Prof. Angélica
LOCAL Rua Rubens Ribeiro, s/n Boca do Mato (Comaq) – América dos Anjos
HORARIO 17:30h às 20:00h

PROF Prof. Ivone Aziz
LOCAL Rua Davi Garcia da Rocha, n.11 (Igeja N.Sra da Esperança) Jardim Esperança – Cabo Frio
HORARIO 19:00h às 21:30h

PROF Prof Joana
LOCAL Rua Vista Alegre, s/n. (Igreja São Pedro e São Paulo) Aquários – Cabo Frio
(Paróquia N.S. de Fátima)
HORARIO 16:30h às 18:30h e 19:00h às 21:30h

PROF Prof. Lucimone Chaves
LOCAL Escola Paulo Roberto Marinho, Amaral Peixoto, km 116 S P da Aldeia
HORARIO 19h às 21:30h

PROF Prof. Solange Bourrus
LOCAL CIEP B. 331 – Rua Porto Alegre, s/n – Aquarius, Cabo Frio
HORARIO 18:30h às 21:30h

PROF Prof. Lucimone Chaves
LOCAL CIEP B. 272 – Estrada dos Passageiros s/n, Bairro de São João – São Pedro da Aldeia
HORARIO 13:30h às 16:30h

PROF Prof Maria de Fátima
LOCAL Rua Paraná, s/n – Manoel Correa – Cabo Frio - E.M.Themira Palmer
HORARIO 18:30 às 20h

PROF Prof. Maria Luisa
LOCAL Escola Antônio Vaz das Silva – Recanto do Sol – São Pedro da Aldeia
HORÁRIO 19:00h às 21:30h

terça-feira, 4 de maio de 2010

Programa de Formação de Professores Alfabetizadores do MEC

Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (Profa) | Língua Portuguesa | Nova Escola

Neste link existem 3 módulos disponíveis para download que o MEC disponibilizou para Formação de Professores de Alfabetização em 2001:

MÓDULO 1 - Processos da Aprendizagem

MÓDULO 2 - Propostas Didáticas I

MÓDULO 3 - Propostas Didáticas II

Não perca: