quinta-feira, 22 de abril de 2010

Mais uma dica de matemática - desenvolvendo a concepção de ângulo!



Matemática
Prática pedagógica / Espaço e forma
Rodrigo Ratier (rodrigo.ratier@abril.com.br), de Joinville, SC
Edição 231 | Abril 2010

disponível em : http://revistaescola.abril.com.br/matematica/pratica-pedagogica/estrategias-eficientes-para-ensinar-conceito-angulo-matematica-espaco-forma-545982.shtml

Estratégias eficientes para ensinar o conceito de ângulo

Usar a ideia de giro para entender o que significam medidas como 90º ou 180º ajuda a compreender o conceito de ângulo e dar sentido a ele.

Ao examinar o currículo previsto para sua turma de 5º ano, a professora Andréia Betina Legatsky Klitzke se surpreendeu com uma recomendação no bloco Espaço e Forma: o documento indicava que os alunos deveriam aprender a usar o transferidor para medir ângulos assim que o conteúdo fosse iniciado. "Isso me preocupou", conta ela. "Utilizar o instrumento sem antes compreender o que é ângulo poderia tornar a atividade mecânica e sem sentido." Começava ali uma investigação para tratar o assunto de uma forma que fosse mais significativa e que gerasse, realmente, o aprendizado nessa área.

Um caminho surgiu no próprio pátio da EM Professora Karin Barkemeyer, em Joinville, a 186 quilômetros de Florianópolis. Durante os intervalos, os meninos se divertiam no skate fazendo uma manobra chamada "zerinho" - nada mais do que um rodopio de 360º, executado em etapas ou de uma vez só pelos mais habilidosos. Como ainda faltavam alguns meses para tratar do tema, Andréia teve tempo de fazer um planejamento mais adequado. Agregando conhecimentos aprendidos num recém-terminado curso de capacitação em geometria, ela concebeu uma sequência didática completa (leia o quadro abaixo), que apresentava a garotada à noção de ângulo como giro.

Os resultados foram tão bons que renderam à Andréia o troféu de Educadora Nota 10 do Prêmio Victor Civita de 2009. "Foi um projeto muito bem construído, da abordagem inicial à avaliação", explica Priscila Monteiro, formadora do Instituto Avisa Lá e selecionadora do Prêmio. "Um dos maiores méritos foi a variedade de atividades, algo especialmente importante numa turma como a dela, em que havia dois alunos com deficiência intelectual." Trata-se de uma providência essencial para contemplar a heterogeneidade que toda classe possui e colaborar para que, de uma forma ou de outra, todos aprendam (leia a sequência didática). No grupo de Andréia, o avanço superou as expectativas para a faixa etária. No fim da sequência, a garotada era capaz de estimar medidas tão sofisticadas como 22,5º.

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A PROFESSORA

A paixão da joinvilense Andréia Betina Legatsky Klitzke pela docência vem desde os 16 anos, no curso de magistério do Ensino Médio. O emprego em um banco, porém, a afastou das salas de aula até 2002, quando passou no concurso da rede municipal. Cursou, então, faculdade e especialização. Hoje, aos 39 anos, casada e mãe de dois filhos, a professora, fã do seriado Lost, é uma das primeiras candidatas quando surge a oportunidade na EM Professora Karin Barkemeyer para cursos de formação continuada. "Já fiz sete capacitações, todas em Matemática. De uma delas, sobre geometria, veio a inspiração para algumas das mais de 15 atividades da sequência didática vencedora do Prêmio", conta.

Objetivo
Andréia queria superar a abordagem clássica (e, por vezes, pouco produtiva) sobre ângulos, centrada em definições e fórmulas. O ponto de partida foi levar a turma do 5º ano a perceber como os diversos tipos de giro realizados pelo corpo estavam relacionados aos ângulos e poderiam ser medidos em grau. Com base nisso, o projeto previa ainda explorar a noção em polígonos, estimar aberturas e, no fim, discutir sobre a importância do ângulo para diversas profissões, de engenheiro a mecânico, de marceneiro a arquiteto.

Passo a passo
A primeira etapa, essencial, foi sondar o que a classe sabia sobre ângulos. A palavra era conhecida ("No futebol, quando o chute é no alto, no canto, é gol no ângulo", disse um aluno), mas o conceito, não. A associação com os giros esclareceu dúvidas e abriu caminhos para atividades de direcionamento por uso de coordenadas ("gire 180º", "vire 90º") e em malha quadriculada (em que era preciso seguir instruções escritas para traçar o rumo certo). O passo seguinte foi a confecção do medidor de ângulos. E, com ele, o aprofundamento: a turma passou a estimar medidas em objetos do cotidiano e em polígonos, superando as expectativas de aprendizagem para o ano.

Avaliação
O instrumento privilegiado por Andréia foram os portfólios. Construídos em parceria com os alunos, continham exercícios de sala, lições de casa, autoavaliações e provas. Em diversas questões, além da resolução numérica, ela pedia a descrição do raciocínio empregado. "Sempre digo: 'Quero saber como você pensou'. A argumentação ajuda a organizar o pensamento, auxilia na defesa de opiniões e incentiva o trabalho de autocorreção. Na Matemática, a linguagem também tem um papel fundamental", defende ela.

Educação Jovens e Adultos precisa de estrutura e material diferenciado



Notícias da Interdidática (clique para acessar o site)

Apostilas antigas e livros infantilizados fazem parte do cotidiano de estudantes da modalidade que acelera a aprendizagem. Especialistas afirmam que carência de métodos e materiais próprios desestimula alunos.

Livros antigos nas estantes das bibliotecas, nenhum computador disponível para consulta, professores que se dividem entre compreender o universo adulto dos estudantes ou achar que os alunos à sua frente nada sabem. Essa é a triste realidade das escolas de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A modalidade que pretende ajudar as pessoas que perderam muito tempo longe da escola ainda enfrenta enormes desafios.

Há dois públicos bastante distintos que devem ser objeto de trabalho dos professores e merecem orientação especial na EJA. A maioria é de adultos que demoraram a ser alfabetizados e frequentar escolas. Dos 4,9 milhões de estudantes matriculados na modalidade, de acordo com o Censo Escolar 2008, 905.417 tinham mais de 39 anos de idade. E cerca de 742 mil, menos de 17 anos.

É no limite entre juventude e mundo adulto que os professores desse público atuam. Eles precisam, mesmo sem a formação adequada, dar conta de atender a necessidades tão distintas dos dois grupos. “Não controlamos, nessa fase, a presença dos alunos em sala de aula. Nem temos funcionários na escola em número suficiente para ficar pedindo para os estudantes assistirem às aulas. Muitos adolescentes acabam ficando na porta da escola, bebendo, fumando, se drogando. E nós não podemos fazer nada, além de chamar a polícia”, lamenta Vicente de Sousa, vice-diretor do Centro de Educação de Jovens e Adultos da Asa Sul (Cesas), colégio do Distrito Federal.

Vicente diz que, quando os professores conseguem convencer esses jovens a entrar em sala de aula, eles acabam atrapalhando a aprendizagem dos colegas. Claro que há exceções, mas ele garante que grande parte dos estudantes se comporta dessa maneira. “Nosso desafio é adaptar nossa escola para esse adolescente. Temos de resgatar as pessoas que estavam fora do sistema escolar e mostrar que elas podem chegar ao ensino superior”, defende o vice-diretor do Cesas.

Um dos grandes problemas enfrentados pelos gestores e professores dessa modalidade de ensino é combater a evasão. Hoje, há quase 5 milhões de matriculados na EJA, mas, segundo o diretor de Políticas de EJA da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), Jorge Teles, outros 62 milhões de brasileiros poderiam voltar à escola pelas matrículas na educação de jovens e adultos.

Jorge reconhece que é preciso tornar as escolas mais atrativas, mas aponta outra dificuldade enfrentada pelos estudantes: a oferta não é uniforme. Há muitos municípios que só oferecem o primeiro segmento do ensino fundamental. Nesses casos, o aluno que quer continuar os estudos precisa se deslocar em longas distâncias. Acaba desistindo. Em outras cidades, a oferta é feita em poucos colégios e, muitas vezes, em um único turno. “Hoje, 90% das vagas são noturnas. Mas o perfil da população mudou”, diz.

No Cesas, que possui estudantes matriculados nos três turnos, é comum encontrar pessoas que tiveram de parar com os estudos muito tempo porque não podiam estudar à noite. São vigilantes, trabalhadores de shoppings, gente que começa a trabalhar em horários não convencionais. João da Cruz, 41, está concluindo o ensino médio. Só pôde voltar à escola porque há aulas pela manhã.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

VII COLOQUIO INTERNACIONAL PAULO FREIRE - PERNAMBUCO

http://www.paulofreire.org.br/coloquio/

VII COLÓQUIO INTERNACIONAL PAULO FREIRE
TEMA: PAULO FREIRE: CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO E CULTURA POPULAR


LOCAL – CAMPUS DA UFPE
DATA – 16 A 19 DE SETEMBRO DE 2010

Iniciadas as inscrições para o VII Colóquio Internacional Paulo Freire. Comemorativo dos 50 anos do Movimento de Cultura Popular do Recife - MCP, o evento contará com a participação de vários protagonistas do MCP, espaço onde Paulo Freire foi um dos expoentes, teceu e realizou muitas de suas revolucionárias idéias. Professores, educadores populares, profissionais de diversas áreas do conhecimento provenientes do Brasil e de diversas partes do mundo estão presentes. No VII Colóquio os participantes podem inscrever trabalhos em Mesas Redondas, Comunicações Orais e participar dos Círculos de Cultura. O participante, ao inscrever seu trabalho deverá escolher um dos eixos:

(1) Educação e Cultura

(2) Educação Popular e Movimentos Sociais

(3) Educação de Jovens e Adultos

(4) Trabalho e Identidade Social

(5) Sustentabilidade do Meio Ambiente

(6) Direitos Humanos e Cultura da Paz

Para os que pretendem participar com trabalhos, o prazo para apresentação do resumo é até 30 de maio de 2010. Sendo aprovado pela Comissão Científica, o autor deverá apresentar texto completo de 8 a 12 laudas, até 30 de julho de 2010. Tudo conforme as orientações para inscrição contidas no site http://www.paulofreire.org.br/coloquio/ FAÇA SUA INSCRIÇAO. PAULO FREIRE ESTÁ VIVO ENTRE NÓS!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

ATIVIDADES DE MATEMÁTICA - I

Olá meninas. Este exercício foi divulgado no último encontro de coordenadores, realizado no CES São Gonçalo. Espero que aproveitem bem.

Lembrando que os educandos têm determinadas concepções de escrita de números. Vamos prestar atenção aos padrões utilizados por eles. Alguns exemplos:

- para escrever o número 27, já se viu a notação 10107. Significa que ele está decompondo os números o expressando-o através da soma;
- para escrever o número 35, por exemplo, pode-se fazer 305 - é o mesmo raciocínio da soma;
- ou ainda, para escrever o número 17, eles podem notar o 71. Significa que está faltando o valor posicional de construção dos números. Segue a atividade abaixo:


(imagem retirada de http://www.cic.pt/Biblioteca/Intermat/internet/matematica.gif)

ATIVIDADES DE MATEMÁTICA – I

1)Explique o que pode significar o número 213 na porta de um apartamento localizado num edifício? – esta atividade é importante para pessoas que trabalham com entregas em geral. R: Significa que este apartamento está no segundo andar, que contém no mínimo 13 apartamentos. Ou ainda, menos comum, no terceiro apartamento de um prédio de 21 andares.

2)Complete o texto com os números que considerar adequados:
“Na ______ semana do mês de junho, mais precisamente no dia _____, cerca de _____ pessoas participaram da Festa Junina, realizada na escola. Foram organizadas ____ barracas de comes e bebes e _____ barracas de diversão. O ponto alto da festa foi a quadrilha com ____ participantes, bem ais do que os que dançaram no ano passado. Foram consumidos ____ sanduíches, salgados, ______ doces e _____ refrigerantes. O total arrecadado na festa foi de ____________________. O lucro previsto é de ___________.”

CATEDRA UNESCO EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Interessante ficar por dentro do que ocorre no Brasil em termos de Educação de Jovens e Adultos.

A Cátedra UNESCO de Educação de Jovens e Adultos faz parte do Programa UNITWIN da UNESCO.

Tem o formato de uma rede interinstitucional, proposta e coordenada pelas Universidades Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que promove eventos, formação de educadores, publicações, documentação, debates e pesquisas, intercâmbios regionais, nacionais e internacionais, além de outras atividades no campo da EJA.
Conheça o projeto da Cátedra em http://catedra-eja.org/arquivos/conheca_acatedra.doc.

OBJETIVOS

Objetivo geral
Promover e incentivar cursos, seminários, eventos científicos e atividades de pesquisa, ensino-aprendizagem, documentação e disseminação de informações na área da educação de jovens e adultos.
Objetivos específicos
1 – Na área de cursos, seminários e eventos: promover e incentivar atividades de debates, registro e publicação de temas que desenvolvam referenciais teórico-metodológicos da educação de jovens e adultos.

2 – Promover cursos de formação em EJA para educadores e gestores brasileiros, africanos e latino-americanos.

3 – Na área de pesquisa e ensino-aprendizagem: promover e incentivar a investigação das temáticas históricas e contemporâneas da educação de jovens e adultos em conexão com os respectivos programas de pós-graduação de cada Universidade envolvida e com parcerias de outras instituições.

4 – Na área de documentação e disseminação de informações: constituir um amplo banco de dados com a catalogação de dissertações e teses, publicações e anais de eventos e confecção de um portal da Cátedra que dissemine todas as informações colhidas e sistematizadas da educação de jovens e adultos.

COOPERAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL

Um dos objetivos principais da Cátedra UNESCO de EJA é incentivar e promover a cooperação entre instituições e movimentos regionais, nacionais e internacionais, especialmente nos terrenos dos países da América Latina e Caribe e, também, da África, a chamada Cooperação Sul-Sul.

Neste sentido, além da parceria UFPB-UFPE-UFRN, estamos trabalhando com o Centro de Cooperación Regional para la Educación de Adultos em América Latina y Caribe - CREFAL (México), com países africanos como Moçambique e desenvolvemos entendimentos com Cabo Verde e Angola no campo da educação de jovens e adultos.

Nesta iniciativa também, ocorrerá um Congresso em João Pessoa, em julho de 2010, cuja programação é a seguinte:

CONFERÊNCIAS, DEBATES E GRUPOS DE TRABALHOS DO CONGRESSO (GTS)

O Congresso será articulado por meio de duas grandes conferências, várias mesas redondas e grupos de debates, grupos de comunicação de trabalhos inscritos, exposição de pôsteres, lançamento de livros, reuniões de entidades e instituições visando a cooperação regional, nacional e internacional.
(I) As conferências terão como principal referência a temática central do Congresso: Educação e aprendizagem ao longo da vida

(II) As mesas redondas e grupos de debates terão eixos condutores gerais: (1) Formação de educadores de jovens e adultos; (2) Políticas de EJA; (3) Participação, inclusão e diversidade; (4) Avaliação das atuais práticas de EJA e (5) Cooperação Sul-Sul no campo da EJA.

(III) Os Grupos de Trabalhos (GTs) e as exposições de Pôsteres aceitarão inscrições nos seguintes temas:

GT1 – Alfabetização, acesso à cultura escrita e à informação
GT2 – Trabalho e educação
GT3 – Educação, diversidade, inclusão e direitos humanos
GT4 – Educação do campo
GT5 – Jovens, adultos e idosos: os sujeitos da EJA
GT6 – Cultura, saúde, meio-ambiente e desenvolvimento sustentável na EJA
GT7 – Materiais didáticos e literários na EJA
GT8 – História e memória da EJA
GT9 – Estado e sociedade civil na EJA
GT10 – Formação de educadores/as de jovens e adultos
GT11 - Paulo Freire na EJA, hoje
GT12 - EJA e Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)

ESQUEMA GERAL

Dia 20/07/2010
15h/ 19h  - Credenciamento
19h30 - Abertura oficial
20h - Conferência de Abertura

Dia 21/07/2010
08h/ 10h - Mesas redondas
10h/12h - Grupos de Debates
12h/ 14h horas - Intervalo
14h/ 18h - Comunicações nos Grupos de Trabalhos/Pôsteres
18h/ 20h - Reuniões/Outras atividades
Lançamento de livros da Cátedra e outros autores

Dia 22/07/2010
08h/ 10h - Mesas redondas
10h/ 12h - Grupos de Debates
12h/ 14h - Intervalo
14h/ 18h - Comunicações nos Grupos de Trabalhos/Pôsteres
18h/ 20h - Reuniões/Outras atividades
Lançamento de livros da Cátedra e outros autores

23/07/2010
08h/ 09h30 - Mesa redonda sobre as ações da Cátedra UNESCO de EJA
09h30/11h - Síntese geral dos Grupos de Debates
11h15/13h - Conferência Final
13h - Cerimônia de encerramento do Congresso

SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA PUC-RIO

Acho que vale a pena divulgar este Seminário, que ocorrerá em outubro de 2010, sobre Educação de Jovens e Adultos. Embora sejamos a pátria de Paulo Freire, referência mundial deste tipo de educação, vivemos ainda um panorama nacional carente de recursos e com segmentos que lutam por uma regulamentação e maiores incentivos nesta modalidade de ensino.

Acho que seminários deste tipo não apenas fortalecem este movimento nacional, mas também desperta as inteligências para a necessidade da conscientização.

Vamos nos inscrever? Nos encontramos lá!



http://www.seeja.com.br/Home.aspx

Inscrições a partir de 30 de abril.

06/10/2010
Atividade
Mesa de abertura
17h
Atividade Cultural 18h30

07/10/2010
Conferência de abertura
9h às 10h Existe mesmo uma educação para o “povo”? Roberto DaMatta - PUC-Rio

Discutir a singularidade do povo brasileiro, sua origem e formação, a partir do entrelaçamento das várias raças que o constituem. Refletir sobre o processo de unificação do português como língua oficial do território brasileiro, na perspectiva de uma homogeneização da diversidade étnica e cultural, ou seja, como passamos de país com mais de 200 tribos e línguas indígenas para um país de falantes de português.

Mesa 1

10h30 às 11h30 Cadê meu aluno nas teorias sobre a construção da escrita? – Modos de pensamento e representação do código alfabético em EJA. Luiz Antônio Senna - UERJ

Apresentar as questões culturais que interferem na constituição do sujeito cognoscente jovem e adulto que busca a alfabetização tardiamente, demonstrando os equívocos teóricos que derivam da apropriação de um conceito de Letramento que possui um sujeito cognoscente idealizado. Levantar as questões que têm influenciado as concepções de Alfabetização e Letramento, responsáveis por séculos de exclusão, fazendo um paralelo entre o sujeito cognoscente idealizado x o sujeito cognoscente real. Desconstruir a ideia de que o sujeito cognoscente real, que frequenta nossas salas de aula, seja “incapaz de aprender”. Caracterizar as reais dificuldades encontradas pelos professores na realização da tarefa de tornar seus alunos “sujeitos da escrita”.

11h30 às 12h30 A utopia linguística da norma-padrão: por que uniformizar a língua? Marcos Bagno - UnB

Discorrer sobre a diversidade linguística que se instaurou no território brasileiro e confrontar essa realidade com a ideia da existência de uma superioridade linguística. Identificar causas e consequências de se pensar uma norma padrão, presumivelmente científica, em oposição à diversidade linguística existente, entendida como senso comum. Ciência e senso comum, mitos e verdades.
Mediação: Wandra Medrado - Uff
12h30 às 13h
Debate

Mesa 2

15h às 16h Alfabetismo(s), Letramento(s) e Multiletramento(s): desafios contemporâneos à Educação de Adultos. Roxane Rojo - IEL/UNICAMP

Realizar uma discussão histórica sobre a constituição do conceito de Letramento, suas condições de produção, e a apropriação desse conceito, pelo campo da educação. Apresentar uma reflexão acerca da existência de um Letramento que é legítimo, em oposição aos múltiplos tipos de letramento que se encontram presentes no contexto de uma sociedade diversa como a brasileira. Refletir sobre a consequência desse fato na tarefa dos professores em tornar seus alunos adultos “sujeitos da escrita”.

16h às 17h E uma educação pro povo brasileiro, tem? Carlos Rodrigues Brandão - UniMontes

Levantar os aspectos históricos vividos no âmbito de uma prática que foi denominada de Educação Popular, sobretudo na alfabetização de adultos, no intuito de tirar lições críticas que possam nos ajudar a pensar o momento atual.
Refletir sobre os desafios e as possibilidades de pensarmos uma educação para o povo brasileiro, datada no século XXI, um tempo fértil em novos conhecimentos e posicionamentos científicos, mas de escassez em ações para cuidar da vida em comum. Relacionar tais aspectos com a dificuldade encontrada pelos educadores para tornar seus alunos “sujeitos da escrita”.
Mediação: Aída Bezerra - SAPÉ
17h às 17h30
Debate

08/10/2010
Conferência
9h às 10h Um balanço das políticas públicas de alfabetização e educação de jovens e adultos no Brasil - Maria Clara Di Pierro USP

Apresentar um panorama das políticas públicas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil, com especial ênfase na alfabetização, realizando um balanço dos programas governamentais com base em pesquisas, avaliações e estatísticas oficiais. Discutir a posição da EJA no Brasil, situando-a no cenário internacional, apresentando um balanço da VI CONFINTEA.

Mesa 3

10h30 às 11h30 A política da SECAD para alfabetização e EJA - André Lázaro - SECAD

Apresentar a agenda da política atual da SECAD – Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidades – fazendo um balanço dos últimos anos, e dimensionando as perspectivas para o futuro.
Destacar o contexto atual do Programa Brasil Alfabetizado, seu desenho e suas metas. Apresentar os pontos de fragilidade e de potencialidades do programa, bem como as estratégias pensadas para estimular a continuidade dos egressos do programa na rede pública de EJA.

11h30 às 12h30
Como os municípios concretizam a política da SECAD – uma visão da consultoria do Programa Brasil Alfabetizado 2008

Os municípios e a EJA – questões do cotidiano do PBA e a continuidade: a experiência da Bahia - Renato Costa
PUC-Rio

Contextualizar a consultoria do Programa Brasil Alfabetizado 2008, pontuando a inserção do NEAd nesse processo. Levantar e discutir algumas questões referentes à alfabetização e EJA, observadas no conjunto de municípios integrantes dessa experiência, na Bahia, tais como: implantação e acompanhamento do PBA, formação de educadores populares e professores das redes públicas de ensino, implantação e fortalecimento da EJA em âmbito municipal, continuidade de estudos.

Pensando o financiamento da EJA a partir dos municípios: a experiência do Maranhão - Ana Ribeiro - PUC-Rio

Caracterizar as diferentes visões do conjunto de municípios integrantes da Consultoria do PBA no Maranhão sobre financiamento. Apresentar um balanço das dificuldades e dos avanços da atual política de financiamento, e a inserção da EJA nesse contexto, a partir do contato direto com esses municípios.
Mediação: José Carmello Carvalho - PUC-Rio

Mesa 4

15h às 16h Caminhos da Formação: contexto, sujeitos e seus processos - Maria Luiza Benicio - PUC-Rio

O que temos chamado de formação? Em que instâncias, espaços e contextos se dá a formação. Qual a legitimidade desses espaços? Quem são os sujeitos concretos que se encontram em formação? Quem forma quem? Como se elege o conteúdo da formação? Como a relação entre os sujeitos e a apropriação da escrita por esses mesmos sujeitos marcam a formação e demarcam os percursos desses sujeitos.

16h às 17h direito de se tornar um sujeito da escrita Maria do Socorro Calhau - UERJ / PUC-Rio

Fazer uma síntese dos fatores que têm dificultado os alfabetizadores na tarefa de formar “sujeitos da escrita”, no âmbito das salas de alfabetização de jovens e adultos, levando em conta que se trata da realização de um direito garantido por lei. Apontar alguns caminhos para a produção de um corpo teórico para a alfabetização dos brasileiros jovens e adultos, a partir das contribuições surgidas nas palestras anteriores.
Mediação: Maria Candida Caetano Gomes - SME-RJ
17h às 17h30
Debate

09/10/2010
Comunicações
9h às 17h Diversos Diversos

Posters
9h às 17h Diversos Diversos

Oficinas
9h às 17h Diversos Diversos

Mesa de Encerramento
17h Diversos Diversos

17h30 Atividade Cultural

RUBEM ALVES - LER E PRAZER

Outra pérola de Rubem Alves, que prova que a leitura em voz alta não é programa apenas para criancinhas que serão alfabetizadas... e mais: é essencial para o despertar da dimensão mais importante em qualquer aprendizado - o prazer! Como o próprio Rubem Alves diz, o que ele ama ele leva no corpo para todos os lados, não só na cabeça... e o mundo fica bem mais lindo com estes "anexos" do corpo, que só a leitura é capaz de proporcionar.

Boa Leitura!

LER E PRAZER

Nietzsche estava certo: “De manhã cedo, quando o dia nasce, quando tudo está nascendo – ler um livro é simplesmente algo depravado...” É o que sinto ao andar pelas manhãs pelos maravilhosos caminhos da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas. Procuro esquecer-me de tudo que li nos livros. É preciso que a cabeça esteja vazia de pensamentos para que os olhos possam ver. Aprendi isso lendo Alberto Caeeiro, especialista inigualável na difícil arte de ver. Dizia ele que “pensar é estar doente dos olhos...” Mas meus esforços são frustrados. As coisas que vejo são como o beijo do príncipe: elas vão acordando os poemas que aprendi de cor e que agora estão adormecidos na minha memória. Assim, ao não pensar da visão une-se o não pensar da poesia. E penso que o meu mundo seria muito pobre se em mim não estivessem os livros que li e amei. Pois, se não sabem, somente as coisas amadas são guardadas na memória poética, lugar da beleza. “Aquilo que a memória amou fica eterno”, tal como o disse a Adélia Prado, amiga querida. Os livros que amo não me deixam. Caminham comigo. Há os livros que moram na cabeça e vão se desgastando com o tempo. Esses, eu deixo em casa. Mas há os livros que moram no corpo. Esses são eternamente jovens. Como no amor, uma vez não chega. De novo, de novo, de novo...

Um amigo me telefonou. Tinha uma casa em Cabo Frio. Convidou-me. Gostei. Mas meu sorriso entortou quando ele disse: “Vão também cinco adolescentes...” Adolescentes podem ser uma alegria. Mas podem ser também uma perturbação para o espírito. Assim, resolvi tomar minhas providências. Comprei uma arma de amansar adolescentes. Um livro. Uma versão condensada da Odisséia, as fantásticas viagens de Ulisses de volta à casa, por mares traiçoeiros...

Primeiro dia: praia; almoço; sono. Lá pelas cinco os dorminhocos acordaram, sem ter o que fazer. E antes que tivessem idéias próprias eu tomei a iniciativa. Com voz autoritária dirigi-me a eles, ainda sob o efeito do torpor: “Ei, vocês... Venham cá na sala. Quero lhes mostrar uma coisa...” Não consultei as bases. Teria sido terrível. Uma decisão democrática das bases optaria por ligar a televisão. Claro. Como poderiam decidir por uma coisa que ignoravam? Peguei o livro e comecei a leitura. Ao espanto inicial seguiu-se silêncio e atenção. Vi, pelos seus olhos, que já estavam sob o domínio do encantamento. Daí para frente foi uma coisa só. Não me deixavam. Por onde quer que eu fosse, lá vinham eles com a Odisséia na mão, pedindo que eu lesse mais. Nem na praia me deram descanso.

Essa experiência me fez pensar que deve haver algo errado na afirmação que sempre se repete de que os adolescentes não gostam da leitura. Sei que, como regra, não gostam de ler. O que não é a mesma coisa que não gostar da leitura. Lembro-me da escola primária que freqüentei. Havia uma aula de leitura. Era a aula que mais amávamos. A professora lia para que nós ouvíssemos. Leu todo o Monteiro Lobato. E leu aqueles livros que se lia naqueles tempos: Heidi, Poliana, A ilha do tesouro. Quando a aula terminava era a tristeza. Mas o bom mesmo é que não havia provas ou avaliações. Era prazer puro. E estava certo. Porque esse é o objetivo da literatura: prazer. O que os exames vestibulares tentam fazer é transformar a literatura em informações que podem ser armazenadas na cabeça. Mas o lugar da literatura não é a cabeça: é o coração. A literatura é feita com as palavras que desejam morar no corpo. Somente assim ela provoca as transformações alquímicas que deseja realizar. Se não concordam, que leiam Guimarães Rosa que dizia que literatura é feitiçaria que se faz o sangue do coração humano.

Quando minha filha estava sendo introduzida na literatura o professor lhes deu como dever de casa ler e fichar um livro chatíssimo. Sofrimento dos adolescentes, sofrimento para os pais. A pura visão do livro provocava uma preguiça imensa, aquela preguiça que Barthes declarou ser essencial à experiência escolar. Escrevi carta delicada ao professor lembrando-lhe que Borges havia declarado que não havia razão para se ler um livro que não dá prazer quando há milhares de livros que dão prazer. Sugeri-lhe começar por algo mais próximo da condição emotiva dos jovens. Ele me respondeu com o discurso de esquerda, que sempre teve medo do prazer: “ O meu objetivo é produzir a consciência crítica...” Quando eu li isso percebi que não havia esperança. O professor não sabia o essencial. Não sabia que literatura não é para produzir consciência crítica. O escritor não escreve com intenções didático-pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta, ou são de vida longa e tediosa... Parodiando as palavras de Jesus “nem só de beijos e transas viverá o amor mas de toda palavra que sai das mãos dos escritores...”

E foi em meio a essas meditações que, sem que eu o esperasse, foi-me revelado o segredo da leitura... Mas o espaço acabou... O jeito é deixar para o próximo mês...

RUBEM ALVES - O PRAZER DA LEITURA

Recomendo fortemente o site "A casa de Rubem Alves", onde ele divulga pensamentos, artigos, e tudo de bom que pode sair de dentro daquela alma. Ainda na série estimulante da leitura, este delicioso texto visa estimular cada vez mais a atividade em sala de aula.

Disponível em: http://www.rubemalves.com.br/oprazerdaleitura.htm

O prazer da leitura

Alfabetizar é ensinar a ler. A palavra alfabetizar vem de “alfabeto“. “Alfabeto“ é o conjunto das letras de uma língua, colocadas numa certa ordem. É a mesma coisa que “abecedário“. A palavra “alfabeto“ é formada com as duas primeiras letras do alfabeto grego: “alfa“ e “beta“. E “abecedário“, com a junção das quatro primeiras letras do nosso alfabeto: “a“, “b“, “c“ e “d“. Assim sendo, pensei a possibilidade engraçada de que “abecedarizar“, palavra inexistente, pudesse ser sinônima de “alfabetizar“...

“Alfabetizar“, palavra aparentemente inocente, contém uma teoria de como se aprende a ler. Aprende-se a ler aprendendo-se as letras do alfabeto. Primeiro as letras. Depois, juntando-se as letras, as sílabas. Depois, juntando-se as sílabas, aparecem as palavras...

E assim era. Lembro-me da criançada repetindo em coro, sob a regência da professora: “be a ba; be e be; be i bi; be o bo; be u bu“... Estou olhando para um cartão postal, miniatura de um dos cartazes que antigamente se usavam como tema de redação: uma menina cacheada, deitada de bruços sobre um divã, queixo apoiado na mão, tendo à sua frente um livro aberto onde se vê “fa“, “fe“, “fi“, “fo“, “fu“... (Centro de Referência do Professor, Centro de Memória, Praça da Liberdade, Belo Horizonte, MG.)

Se é assim que se ensina a ler, ensinando as letras, imagino que o ensino da música deveria se chamar “dorremizar“: aprender o dó, o ré, o mi... Juntam-se as notas e a música aparece! Posso imaginar, então, uma aula de iniciação musical em que os alunos ficassem repetindo as notas, sob a regência da professora, na esperança de que, da repetição das notas, a música aparecesse...

Todo mundo sabe que não é assim que se ensina música. A mãe pega o nenezinho e o embala, cantando uma canção de ninar. E o nenezinho entende a canção. O que o nenezinho ouve é a música, e não cada nota, separadamente! E a evidência da sua compreensão está no fato de que ele se tranquiliza e dorme – mesmo nada sabendo sobre notas! Eu aprendi a gostar de música clássica muito antes de saber as notas: minha mãe as tocava ao piano e elas ficaram gravadas na minha cabeça. Somente depois, já fascinado pela música, fui aprender as notas – porque queria tocar piano. A aprendizagem da música começa como percepção de uma totalidade – e nunca com o conhecimento das partes.

Isso é verdadeiro também sobre aprender a ler. Tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a estória. A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. “Erotizada“ – sim, erotizada! – pelas delícias da leitura ouvida, a criança se volta para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está lendo.

No primeiro momento as delícias do texto se encontram na fala do professor. Usando uma sugestão de Melanie Klein, o professor, no ato de ler para os seus alunos, é o “seio bom“, o mediador que liga o aluno ao prazer do texto. Confesso nunca ter tido prazer algum em aulas de gramática ou de análise sintática. Não foi nelas que aprendi as delícias da literatura. Mas me lembro com alegria das aulas de leitura. Na verdade, não eram aulas. Eram concertos. A professor lia, interpretava o texto, e nós ouvíamos extasiados. Ninguém falava. Antes de ler Monteiro Lobato, eu o ouvi. E o bom era que não havia provas sobre aquelas aulas. Era prazer puro. Existe uma incompatibilidade total entre a experiência prazerosa de leitura – experiência vagabunda! – e a experiência de ler a fim de responder questionários de interpretação e compreensão. Era sempre uma tristeza quando a professora fechava o livro...

Vejo, assim, a cena original: a mãe ou o pai, livro aberto, lendo para o filho... Essa experiência é o aperitivo que ficará para sempre guardado na memória afetiva da criança. Na ausência da mãe ou do pai a criança olhará para o livro com desejo e inveja. Desejo, porque ela quer experimentar as delícias que estão contidas nas palavras. E inveja, porque ela gostaria de ter o saber do pai e da mãe: eles são aqueles que têm a chave que abre as portas daquele mundo maravilhoso! Roland Barthes faz uso de uma linda metáfora poética para descrever o que ele desejava fazer, como professor: maternagem: continuar a fazer aquilo que a mãe faz. É isso mesmo: na escola, o professor deverá continuar o processo de leitura afetuosa. Ele lê: a criança ouve, extasiada! Seduzida, ela pedirá: “Por favor, me ensine! Eu quero poder entrar no livro por conta própria...“

Toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontecerá. Há aquele velho ditado: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber“. Traduzido pela Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo. Quero é fome“. Metáfora para o professor: cozinheiro, Babette, que serve o aperitivo para que a criança tenha fome e deseje comer o texto...

Onde se encontra o prazer do texto? Onde se encontra o seu poder de seduzir? Tive a resposta para essa questão acidentalmente, sem que a tivesse procurado. Ele me disse que havia lido um lindo poema de Fernando Pessoa, e citou a primeira frase. Fiquei feliz porque eu também amava aquele poema. Aí ele começou a lê-lo. Estremeci. O poema – aquele poema que eu amava – estava horrível na sua leitura. As palavras que ele lia eram as palavras certas. Mas alguma coisa estava errada! A música estava errada! Todo texto tem dois elementos: as palavras, com o seu significado. E a música... Percebi, então, que todo texto literário se assemelha à música. Uma sonata de Mozart, por exemplo. A sua “letra“ está gravada no papel: as notas. Mas assim, escrita no papel, a sonata não existe como experiência estética. Está morta. É preciso que um intérprete dê vida às notas mortas. Martha Argerich, pianista suprema (sua interpretação do concerto n. 3 de Rachmaninoff me convenceu da superioridade das mulheres...) as toca: seus dedos deslizam leves, rápidos, vigorosos, vagarosos, suaves, nenhum deslize, nenhum tropeção: estamos possuídos pela beleza. A mesma partitura, as mesmas notas, nas mãos de um pianeiro: o toque é duro, sem leveza, tropeções, hesitações, esbarros, erros: é o horror, o desejo que o fim chegue logo.

Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática –que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor? Mestre do kama-sutra da leitura...

APERITIVOS

1. “Analfabeta não é a pessoa que não sabe ler. É a pessoa que, sabendo ler, não gosta de ler.“ (Quem foi que disse isso? Acho que foi o Mário Quintana).

2. A menininha de 9 anos me explicou como as crianças na sua escola aprendiam a ler: “Aqui na Escola da Ponte não aprendemos letras e silabas. Só aprendemos totalidades...“

3. Os compositores colocam em suas partituras indicações para orientar o intérprete: lento, presto, adagio, alegretto, forte, piano, ralentando. Os escritores deveriam fazer o mesmo com seus textos. Há textos que devem ser lidos lentamente, expressivamente, tristemente. Outros que exigem leveza, rapidez, riso. O leitor experiente não precisa dessas indicações. Mas elas poderiam ajudar os principiantes.

4. “Mais valem dois marimbondos voando que um na mão“ (Almanak do Aluá).

5. Graciliano Ramos relata que, quando menino, na escola lhe ensinaram um ditado: “Fale pouco e bem e ter-te-ão por alguém“. Ele repetia o ditado mas ficava com uma dúvida: “Quem será esse ‘Tertião’?“

(Correio Popular, Caderno C, 19/07/2001.)

EDIÇÃO ESPECIAL DA REVISTA NOVA ESCOLA - alfabetização!

Está no ar uma edição especial sobre educação da Revista Nova Escola, vale a pena a consulta. Disponível no link: http://revistaescola.abril.com.br/edicoes-especiais/025.shtml

Destaco uma temática que vem sendo bastante debatida entre nosso grupo de alfabetizadoras - a importância da leitura diária feita pelo professor para a classe. Ao contrário do que muitos possam pensar, essa atividade não é proveitosa apenas para crianças. Experimente fazer uma sessão de leitura em voz alta entre adultos, e sinta como é gostoso... Nós sempre dedicamos o início de nossas reuniões com essas sessões, onde aproveitamos e treinamos nossa entonação, nossa criatividade e capacidade de improviso em uma situação de debate.

Boa leitura!

LEITURA PELO PROFESSOR

A leitura feita pelo professor tem que ser constante na alfabetização
Ouvir permite às crianças ampliar o repertório cultural, aumentar a familiaridade com a língua, desenvolver o comportamento leitor e iniciar o processo formal de alfabetização


Luiza Andrade (novaescola@atleitor.com.br), reportagem sugerida pela leitora Josélia de Castro Silva, Petrópolis, RJ

Sempre que o professor lê para a turma, revela as múltiplas possibilidades que os textos oferecem. Essa é uma das quatro situações didáticas básicas no processo de alfabetização. "As crianças conhecem narrativas, lugares, personagens e autores e têm a oportunidade de se encantar com a leitura. O desejo de aprender a ler para decifrar os livros preferidos com autonomia e descobrir novas histórias aumenta de intensidade", diz Ana Flavia Alonço, pedagoga e formadora de professores do Projeto Entorno, da Fundação Victor Civita.

A leitura, como prática social, pode ser ensinada em situações em que a turma toda participe, comentando o que foi lido, levantando e explicitando hipóteses, debatendo ideias. Atitudes como essas compõem o chamado comportamento leitor, capaz de ser desenvolvido desde muito cedo com a ajuda dos mais experientes. A figura de pais e professores é fundamental, pois eles assumem o papel de condutores de seus ouvintes para um mundo fantástico. Nas palavras da psicolinguista argentina Emilia Ferreiro, "a leitura é um momento mágico, pois o interpretante informa à criança, ao efetuar essa ação aparentemente banal, que chamamos de 'um ato de leitura', que essas marcas têm poderes especiais: basta olhá-las para produzir linguagem".

É preciso, porém, ter em mente a intenção da leitura. Não basta simplesmente fazer uma sessão por dia sem propósito comunicativo. "Quando o professor lê, tem de considerar sua ação como prática social que entretém, emociona, informa e diverte. Mas também deve estar ciente dos objetivos didáticos a que ela se destina - por exemplo, diferenciar a linguagem escrita da falada ou conhecer o estilo de um autor", afirma Célia Prudêncio, formadora do Programa Ler e Escrever, do governo do estado de São Paulo. Segundo ela, se os objetivos não estiverem claros, a leitura, por si só, não dá conta de alavancar o processo de alfabetização, pois faltam os procedimentos necessários à mediação entre o professor, os alunos e a linguagem escrita.



Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/pequenos-leitores-431328.shtml